Críticas


O ESTRANHO CASO DE ANGÉLICA

De: MANOEL DE OLIVEIRA
Com: RICARDO TRÊPA, PILAR LÓPEZ DE AYALA, LEONOR SILVEIRA
14.11.2013
Por Daniel Schenker
O filme bate na tela como uma celebração do antigo, mas não é uma peça de museu.

“O estranho caso de Angélica” é um filme marcadamente romântico. Chamado às pressas para fotografar uma jovem recém-falecida, Angélica, Isaac se apaixona ao “vê-la” sorrir. A partir daí, ele é tomado por um estado de encantamento que se torna cada vez mais fervoroso. Esta história de amor singular rende, pelo menos, um momento mágico: o do voo de Angélica e Isaac, em sequência realizada por meio de comovente utilização de efeitos visuais.

Manoel de Oliveira transita entre as esferas do terreno e do transcendental. Destaca contrastes, como na cena em que Isaac observa fotos que evidenciam a suavidade de Angélica e outras que realçam a expressão bruta de trabalhadores. Mas o diretor vai além. “O estranho caso de Angélica” bate na tela como uma celebração do antigo, a julgar pela evocação de Georges Méliès, por um personagem que não adere às inovações, por falas explicativas e por passagens austeras (em especial, as do velório de Angélica).

Contudo, essas características não conferem ao resultado um aspecto de peça de museu. Oliveira – que já tinha mais de 100 anos quando dirigiu esse filme e hoje está às vésperas de completar 105 – comprova invejável vigor profissional. Coproduzido pela Mostra de São Paulo, “O estranho caso de Angélica” traz no elenco a atriz brasileira Ana Maria Magalhães e intérpretes frequentes em obras do cineasta – Ricardo Trêpa, neto do diretor, Leonor Silveira e Luís Miguel Cintra.

Crítica publicada no jornal O Globo em 08/11/2013.

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