Tédio, sofrimento e tristeza são sentimentos que maculam o cotidiano de Sylvia (Isabelle Huppert), protagonista de Promessa de Vida. O espectador, porém, não chega a compartilhá-los, nem mesmo a ter dó. Porque ao desenvolver a história da prostituta que decide regressar à cidade onde ficava sua antiga casa, o diretor Olivier Danan confunde melancolia com monotonia, conceitos que embora rimem não são necessariamente correspondentes.
A mão de Danan é pesada, não só quando intenciona fazer associações, como nos momentos em que pretende sublinhar a dor da mulher. O retorno à antiga vila, motivado por um crime fortuito, representa a busca por um passado idealizado, que sobressai também nas seguidas remissões a espécies de flor – ela adorava o jardim da avó quando criança. Ao ambiente hostil da cidade contrapõe-se uma natureza idílica – filmada, é bem verdade, em planos belíssimos que retratam a paisagem do interior da França.
Também o abrupto rompimento com o que ficou tão-só na memória - expressa pela lembrança do tal jardim da avó - é sinalizado em metáfora gasta. Para marcar a indiferença da personagem com relação à filha adolescente, as duas se perdem durante a viagem, não obstante quase se esbarrarem em várias situações. “Tão perto, tão longe” – já não se ouviu isto em algum lugar?
Assim, os clichês vão se multiplicando. Rapidamente, o filme transforma-se num tour de force para a paciência da platéia. E quem resiste é brindado com as constrangedoras cenas finais, nas quais o diretor, ao tentar ser poético, é apenas piegas. Lamentável, até porque o elenco, capitaneado pela talentosa Huppert, está bem equilibrado, e as canções ajudam a sustentar o potencial dramático de algumas seqüências que, em razão da precariedade do roteiro, ressentem-se de maior encadeamento. Dois exemplos: o reencontro de Sylvia com a velha casa, agora abandonada, e a dança à beira do rio com o homem que lhe dá carona. Justamente o rio cuja imagem, se melhor trabalhada, poderia emprestar maior significado à aparente proposta de Dahan: ilustrar a assertiva pré-socrática de que é impossível tocar novamente a água que seguiu corredeira abaixo.
#PROMESSA DE VIDA (La Vie Promise)
FRANÇA, 2002
Direção: OLIVIER DAHAN
Roteiro: AGNÈS FUSTIER-DAHAN
Elenco: ISABELLE HUPPERT, FABIENNE BABE, MAUD FORGET, PASCAL GREGGORY, ANDRE MARCON
Duração: 95 min