Críticas


MOSTRA DE SP: A VOLTA DO FILHO PRÓDIGO

De: DANIÈLE HUILLET e JEAN-MARIE STRAUB
Com: ROMANO GUELFI, ROSALBA CURATOLA, ALDO FRUTTUOSI, MARTINA GIONGRIDDO, PAOLO SPAZIANI
17.10.2003
Por Daniel Schenker
QUAL A DISPONIBILIDADE DO ESPECTADOR?

Talvez seja preciso mais de uma visita para apreender o excesso de informação presente em A Volta do Filho Pródigo – Os Humilhados. Há muito trabalho durante a hora de duração do filme de Danièle Huillet e Jean-Marie Straub. Vejamos: o público é colocado diante da dificuldade da escuta de um texto – na verdade, fragmentos da novela Mulheres de Mesina, do escritor siciliano Elio Vittorini, o mesmo que inspirou outras produções dos cineastas, como Operários, Camponeses e Gente da Sicília – num meio gerador de expectativas visuais como o cinema; e de atores que deixam a impressão de tão-somente pronunciarem palavras à medida em que as lêem num caderno de anotações. Não é obrigatório dar conta integralmente dessas tarefas, formadoras da espessura da obra. O espectador pode eleger uma delas e tentar realizar um mergulho vertical. Cada um assiste a um filme, de acordo com as suas possibilidades momentâneas.



Deve-se pensar, antes de mais nada, no feito de Huillet e Straub, que apresentam um filme que trata da disponibilidade do público. Não há qualquer tipo de facilitação. Os diretores negam as (supostas?) necessidades da platéia contemporânea e investem num trabalho para os resistentes, para aqueles que aceitam a exasperação. Quem enfrentar o incômodo sairá da sessão com algumas perguntas formuladas e, quem sabe, uma ou outra resposta. As dúvidas, é claro, são mais freqüentes: há algo por trás da (aparente?) neutralidade dos atores? A melodia monocórdica é sinônima de ausência de expressividade ou pode conter uma inquietação interna, um palpitar? A proposital ausência de organicidade nas interpretações restringe o filme a uma apreciação intelectual ou remete a uma força contrastante que está na base do projeto?



Parece haver uma certa integração no contraste movendo a realização de A Volta do Filho Pródigo – Os Humilhados. Atores vestidos com mais ou menos formalidade, alguns caracterizados e outros não, falam o texto em estado de imobilidade no meio de uma floresta. Aparentemente, não faz sentido. Mas, de alguma maneira, Danièle Huillet e Jean-Marie Straub lembram que o ser humano é parte integrante da natureza, cujo movimento nem sempre é captado por olhares menos resistentes.



# A VOLTA DO FILHO PRÓDIGO – OS HUMILHADOS (Le Retour du Fils Prodigue – Les Humiliés)

França, 2003

Direção e roteiro: DANIÈLE HUILLET e JEAN-MARIE SRAUB

Fotografia: RENATO BERTA

Elenco: ROMANO GUELFI, ROSALBA CURATOLA, ALDO FRUTTUOSI, MARTINA GIONGRIDDO, PAOLO SPAZIANI

Duração: 64 minutos



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