Críticas


AMANTE A DOMICILIO

De: JOHN TURTURRO
Com: WOODY ALLEN, JOHN TURTURRO, SHARON STONE, VANESSA PARADIS
02.05.2014
Por Marcelo Janot
Tudo que pode lembrar uma divertida comédia estrelada por Woody Allen está condensado em dois minutos de trailer

Imagine que um livreiro septuagenário de repente tenha a brilhante ideia de se tornar cafetão de seu amigo, um florista cinquentão sem nenhum sex appeal. Entre as clientes do gigolô estão uma dermatologista e uma amiga fogosa doidas por uma ménage a trois, além de uma jovem judia ortodoxa viúva. Agora imagine esse enredo absurdo estrelado por Woody Allen como o cafetão, John Turturro como o gigolô, Sharon Stone e a fogosa Sofia Vergara como a dermatologista e sua amiga, e por fim a cantora e atriz Vanessa Paradis como a viúva judia. A julgar pelas boas gargalhadas provocadas pelo trailer, “Amante a Domicilio” (o correto não seria “Amante EM domicílio”?) teria tudo para dar certo. Mas aí você vê o filme e descobre que te venderam gato por lebre: tudo que pode lembrar uma divertida comédia estrelada por Woody Allen está condensado em dois minutos de trailer. Nos 88 minutos restantes, pouca coisa se salva.

Aparições de Woody Allen exclusivamente como ator, sem participação sua no roteiro ou direção, são raríssimas porque ele sabe que seria desonesto com seu séquito de fãs. Aconteceu há dois anos com a medíocre comédia francesa “Paris-Manhattan”, de Sophie Lellouche, em que fez uma pequena ponta. O filme era uma tentativa canhestra disfarçada de homenagem reverencial, por parte da diretora, de reproduzir o estilo de Allen. O mesmo volta a ser repetir agora com “Amante a Domicilio”, dirigido por John Turturro. Só que nesse a expectativa era maior, pois Allen tem status de co-protagonista, e o argumento inusitado parecia ter saído de sua mente criativa. Mas a impressão de estarmos diante de um legítimo filme de Woody Allen vai logo se desfazer.

Depois de um início bem-sucedido investindo na comédia rasgada e absurda, logo percebe-se que essa situação se esgota. Já não há mais porque rir da cruzada de pernas de Sharon Stone ou do apetite sexual de Sofia Vergara por um sujeito sem qualquer atrativo neste aspecto. É quando o Turturro diretor e roteirista começa a dar ênfase ao drama envolvendo uma viúva judia que precisa se libertar do luto imposto pela rigidez ortodoxa de sua religião. Há uma tentativa de se dar alguma profundidade à relação, entremeada pela presença de Allen como alívio cômico, mas Turturro tem uma das piores atuações de sua carreira. Além disso, ele mostra inabilidade como roteirista, com um história claudicante tanto no aspecto romântico quanto cômico. Desenvolve mal personagens como os de Vergara e Liev Schreiber , este uma mera caricatura de um patrulheiro do bairro judeu, enquanto Allen e Sharon Stone se salvam apenas por remeterem às suas próprias personas cinematográficas. Se não fossem a boa trilha sonora recheada de standards americanos e as escassas mas divertidas tiradas de Allen, poderíamos estar diante de uma das grandes bombas do ano.

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