Críticas


ACQUARIA

De: FLAVIA MORAES
Com: SANDY, JUNIOR, ALEXANDRE BORGES, JULIA LEMMERTZ
14.12.2003
Por Nelson Hoineff
LOS ANGELES, SÃO PAULO

Há uma firme proposta por trás de Acquaria: a de se parecer tão pouco quanto possível com um filme brasileiro - entendendo-se pelo termo o que “filme brasileiro” vende de ruim a quem prefere o estereótipo do acabamento técnico hollywoodiano. O que há ou deixa de haver de nobreza nessa proposta não é o que importa agora. O fato é que ela é comum a muitos outros filmes brasileiros, às vezes explicitamente, outras nem tanto. Pode-se dizer até que o amparo em modelos importados para a construção de filmes brasileiros tenha seu lado ético bastante multifacetado, segundo vetores onde se incluem, fortemente, a natureza e o gênero do produto. Walter Lima Jr, para não ir mais longe, fez O Monge e a Filha do Carrasco literalmente sobre uma forma e um projeto importados. Neste sentido, pode-se creditar a Acquaria o mérito de ser um dos bons filmes estrangeiros feitos no Brasil – especialmente levando-se em conta que a maioria dos projetos de filmes infantis feitos no país tem muito pouco de originais e menos ainda de brasileiros.



Trata-se de um filme menos comprometido com a criação do que com a realização, como costuma acontecer aos filmes de publicidade ou aos que tenham origem nessa família. É aí que nasce Acquaria – mais especificamente na Casablanca, uma finishing-house brasileira de padrão incontestavelmente internacional, que está se lançando à produção de filmes e de séries para televisão. Não conheço a obra de Sandy e Junior, mas ouvi de quem conhece a informação de que seus padrões de excelência na televisão são muito superiores aos dos outros programas feitos para o mesmo tipo de audiência. Pois essa impressão é integralmente transferida para o cinema. Com exceção de filmes para crianças que trazem no bojo propostas bem diferentes – como Castelo Ra-Tim-Bum, por exemplo – dificilmente se pode comparar Acquaria a qualquer filme brasileiro que pareça voltado para o mesmo público.



Seu ponto de partida – a da escassez de água no futuro do planeta - já bastaria para lhe conferir uma importância educativa que outros filmes do gênero não costumam ter. Mas o fato é que a partir daí a diretora Flavia Moraes segue a receita estética com rigor e talento. O desenho de produção, os efeitos especiais, os figurinos, a música e o modelo de interpretação conduzem a um produto perfeitamente adequado à sua proposta. Não vejo um grande mal intrínseco nisso. Prefiro mil vezes um Acquaria às dezenas de filmes que tentam chegar a esse modelo sem confessar e sem conseguir. Talvez preferisse que os números musicais fossem mais elaborados, mas de qualquer forma duvido muito que um dia eu chegue a gostar desse tipo de música. Sei que Acquaria não foi feito para mim. Mas tenho suficiente percepção para entender que há nele um forte respeito pelo público a que se destina, respeito que não percebo em muitos filmes que parecem seus pares.



# ACQUARIA

Brasil, 2003

Direção:FLAVIA MORAES

Roteiro: CLAUDIO GALPERIN

Produção: OMAR JUNDI

Fotografia: LAURO ESCOREL

Música: VITOR POZAS

Elenco:SANDY, JUNIOR, ALEXANDRE BORGES, JULIA LEMMERTZ, MILTON GONÇALVES

Duração:103 minutos

Site:www.acquariaofilme.com.br



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