Uma pena que Escola de Rock esteja sendo lançado somente agora, que acabaram as férias escolares. O filme cumpre uma função sócio-educativa nobilíssima: resgatar os pequenos da lobotomização imposta por filmes da Xuxa, Angélica, Sandy Junior e seus similares importados, que se disfarçam de cinema para enfiar goela abaixo da audiência números musicais de grupos e cantores horrorosos, com fins exclusivamente comerciais. Escola de Rock procura mostrar a esse mesmo público, de maneira inteligente, que gostar de música e ouvir Christina Aguillera são duas coisas incompatíveis.
Levando-se em consideração que estamos lidando com uma faixa etária de consumidores passivos, daqueles que ao ligar o rádio só conseguem escutar Christina Aguillera, que vão à matinê da boate da moda e o DJ só toca Christina Aguillera, que vão ao cinema pra ver uma aventura hollywoodiana e na trilha sonora tem Christina Aguillera, e por fim ligam a MTV e o que se vê é Christina Aguillera estimulando o erotismo precoce, cabe à crítica, seja ela de cinema ou de música, louvar a oportunidade que Escola de Rock oferece: de mostrar o papel educativo que o velho rock and roll de verdade pode desempenhar na vida de crianças de 10 anos. Yeah!
Calma, este não é um filme transgressor que sugere que a criançada, em nome da arte, se espelhe no exemplo de vida de gênios infelizes como Kurt Cobain, Jim Morrison, Jimi Hendrix. Trata-se de um filme hollywoodiano, mas o diretor Richard Linklater, com a mesma habilidade de quem fez um filme de animação em que só se discute filosofia (Waking Life), consegue driblar as limitações impostas pelo estúdio para propor um outro tipo de rebeldia – sem o sexo e as drogas, apenas com o rock and roll, que é suficiente para ensinar à garotada que existe algo muito mais legal do que os pais caretas, os professores ortodoxos e a mídia corrompida acham que é bom para eles.
Assim, Keith Moon, o incrível baterista do The Who, serve de exemplo para o pequeno baterista, sem que este precise saber que Moon era tão doidão que morreu de overdose em 1978. A lição, aqui, é apenas musical. Mas não é só isso. Escola de Rock tem um outro papel importantíssimo: romper com o padrão estético imposto pelo mundo consumista de hoje, em que para ser “cool” é preciso se vestir com as roupas da moda e para ser músico ou artista tem que ter cara e corpinho de top model. O “professor” Dewey Finn (o personagem de Jack Black, um guitarrista frustrado que pra descolar uma grana se faz passar por professor substituto em uma escola conservadora) ensina a seus alunos, especialmente ao japinha de óculos e a gorducha da classe, que basta ter atitude para ser aceito e compreendido como uma pessoa bonita. Edificante, mas sem um pingo da pieguice de outras produções sobre professores de música e seus alunos problemáticos, como os dramalhões Mr. Holland e Música do Coração.
Escola de Rock é um filme feito para crianças e adolescentes entenderem e se divertirem. Por isso, o roteiro por vezes é esquemático e escorrega em alguns clichês, há situações absurdas que são encaradas com a maior naturalidade (tipo ninguém na escola desconfiar das aulas de música secretas), e alguns personagens são caricaturais, para facilitar a compreensão. O que não impede o público adulto de se divertir a valer, primeiro por conta das inúmeras referências ao rock das décadas de 60 e 70, e segundo porque o ator Jack Black é impagável e perfeito para esse tipo de papel (como ele já havia mostrado roubando a cena em Alta Fidelidade). Além disso, não é todo dia que se pode sair do cinema ao som de It’s a Long Way to the Top (If You Wanna Rock and Roll), do AC/DC.
# ESCOLA DE ROCK (SCHOOL OF ROCK)
EUA, 2003
Direção: RICHARD LINKLATER
Roteiro: MIKE WHITE
Produção: SCOTT RUDIN
Fotografia: ROGIER STOFFERS
Montagem: SANDRA ADAIR
Música: AC/DC, LED ZEPPELIN, THE WHO E OUTROS
Elenco: JACK BLACK, JOAN CUSACK, MIKE WHITE, SARAH SILVERMAN
Duração: 108 min.
site: http://www.schoolofrockmovie.com/