Críticas


CUSTO DA CORAGEM, O

De: JOEL SCHUMACHER
Com: CATE BLANCHETT, CIARAN HINDS, GERALD MCSORLEY, BRENDA FICKER
03.03.2004
Por João Mattos
AQUÉM DA BIOGRAFADA

Fulminante, sem dúvida, é o termo mais adequado para descrever a vida e a carreira da jornalista irlandesa Veronica Guerin (1959-1996). Ela começou a trabalhar na imprensa aos 30 anos, e morreu assassinada aos 37, pela mesma classe de bandidos que denunciava em reportagens sobre a conturbada fase pela qual passava a cidade de Dublin. Sua morte provocou comoção nacional, ajudou a modificar leis, levou a mais de 150 prisões e ao desmantelamento de várias atividades criminosas, o que deve ter ajudado a fazer com que hoje a cidade viva momento de rara prosperidade econômica e social neste momento da Europa.



Fulminantes, ou melhor fulminadas, foram também as carreiras dos dois filmes que retrataram a vida de Veronica: Alto Risco e uma das estréias nacionais desta semana, O Custo da Coragem, de Joel Schumacher. Ambos fracassos completos de público, e que tiveram recepção pouco entusiasmada dos cinéfilos e da crítica. Esta versão (tal como a primeira) já traz Veronica (Cate Blanchett) conhecida e polêmica por suas denúncias (só que aqui se mostra os ciúmes de outros jornalistas com a repercussão do trabalho dela), acompanha as investigações que ela fazia e as ameaças que sofreu (e os dois atentados) antes do fim trágico.



O resultado é um pouco melhor do que previsto em função do estágio atual da carreira de Schumacher. O diretor já fez obras razoáveis, boas e pelo menos uma diversão irresistível (Garotos Perdidos). Mas sua covardia ao amenizar argumentos fortes (Um Dia de Fúria), vulgaridade e histeria na condução de franquias de filmes de aventura (seus dois Batman), indigência e sensacionalismo no trato de temas polêmicos (8 MM), total incompetência com os clichês de um subgênero (Má Companhia, o típico filme dupla de antagonistas que viram amigos), subutilização de roteiro interessante de outro diretor (Por Um Fio), o transformaram num piores diretores em atividade no cinema dos EUA. Sua direção em O Custo da Coragem, tanto em termos plásticos quanto dramáticos, cria uma obra que fica num meio-termo entre os docudramas políticos mais vigorosos dos anos 70 e banais telefilmes de denúncia social de qualquer época, mas é eficiente em alguns momentos, sobretudo nos minutos finais, mostrando o impacto na Irlanda da morte de Veronica ao som de uma canção (Funeral Song) interpretada pela genial Sinead O’Connor.



Mesmo assim, o filme como um todo nem emociona a contento como drama pessoal de uma mulher, nem como drama que vivem muitas pessoas da classe jornalística mundo afora. Boa mesmo (ainda que aquém do que ela já fez) é a atuação da australiana Cate Blanchett (correto o sotaque que ela usa) como Veronica. Cate tem tanto talento que curiosamente consegue cativar mais em cenas menos tensas.



Os que conhecem o filme General, de John Boorman (só saiu em VHS no Brasil), ficarão espantados com o retrato bastante cruel do bandido Martin Cahill, conhecido justamente como General, traçado em Custo da Coragem, já que na obra de Boorman ele era apresentado de uma forma bem simpática, quase como um Robin Hood, um mito da marginália romantizada.





# O CUSTO DA CORAGEM (Veronica Guerin)

EUA, 2003

Direção: JOEL SCHUMACHER

Roteiro: CAROL DOYLE, MARY AGNES DONOGHUE

Produção: JERRY BRUCKHEIMER, NED DOWD, MORGAN O’SULLIVAN

Fotografia: BRENDAN GAVIN

Montagem: DAVID GAMBLE

Música: HARRY GREGSON- WILLIAMS, MICHAEL A. LEVINE

Elenco: CATE BLANCHETT, CIARAN HINDS, GERALD MCSORLEY, BRENDA FICKER, GERRY O’BRIEN, DON WYCHERLEY

Duração: 98 min

site: http://veronicaguerin.movies.go.com/

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