Muitos são os filmes sobre os bastidores de Hollywood, tamanha é a fixação dos roteiristas por esse universo quase mítico. Mapas para as estrelas, o último filme de David Cronenberg, talvez seja aquele que tenha retratado esse universo da forma mais impiedosa, cruel e violenta possível. Acostumado a analisar as pulsões violentas e recalcadas dos seres humanos, o cineasta mostra o cotidiano de atrizes, agentes, assistentes e pretensos gurus e suas obsessões pelo sucesso a qualquer preço. O filme procura desmistificar o mundo supostamente mágico que envolve o star-system e apresenta uma Hollywood doente, esclerosada e sórdida.
E o processo de demitologização aparece desde o início, quando Agatha Weiss (Mia Wasikowska) chega a Hollywood de ônibus, sem nenhum glamour, para reencontrar o seu passado.
O filme não possui uma intriga propriamente dita, na medida em que evita os encadeamentos causais que tipificam o classicismo hollywoodiano. Assim, nas primeiras sequências, a história do filme não é apresentada com a função e os objetivos de cada personagem bem definidos e delineados. Cronenberg prefere apresentar a personalidade e as neuroses de cada um para melhor revelar a podridão da meca do cinema.
Temos o papel do roteirista de cinema (inspirado na vida real do roteirista do filme e interpretado por Robert Pattinson) que, enquanto aguarda a oportunidade para apresentar seus projetos, trabalha como chofer de limusine e como ator coadjuvante em pequenas séries. Arrivista, o futuro candidato ao estrelato está disposto a tudo para obter seu lugar ao sol o mais rapidamente possível.
O personagem de Benjie (Evan Bird) é um dos mais ricos e complexos do filme. Ele incarna as perigosas consequências do sucesso precoce na vida de uma criança. Aos 13 anos, arrogante, pretensioso, vulgar e excessivamente agressivo, ele tenta reencontrar o caminho do sucesso depois de algumas passagens por clínicas de desintoxicação.
Com o personagem de Havana (Julianne Moore), o filme denuncia a mitomania do meio hollywoodiano. A atriz é obcecada pela imagem materna e inventa uma relação complicada entre as duas que é negada pelo fantasma da mãe que a persegue. Além de mitômana, ela é sádica e não hesita em festejar a morte acidental de inocentes, desde que tal morte lhe abra as portas de uma produção da qual ela havia sido preterida.
O personagem de Agatha mostra a complicada relação familiar no seio da classe artística hollywoodiana. Aliás, levando-se em consideração a vastíssima literatura sobre o assunto, esse talvez seja o único bemol do filme, na medida em que os personagens parecem ligeiramente estereotipados. Essa família é representada como a própria incarnação da perversão, da obsessão quase monstruosa pelo sucesso, além de denunciar a presença de falsos gurus, charlatões e suas terapias supostamente alternativas que se aproveitariam do desequilíbrio psicológico e do estresse de uma grande parte dos profissionais da indústria cinematográfica.
Em seu retrato do universo do cinema, David Cronenberg opta por uma total desmistificação. Dessa maneira, a cartografia de Hollywood que é representada no filme, o sardônico mapa para as estrelas de seu título, não é a do luxo das grandes mansões de Hollywood, da vida nababesca e glamorosa das grandes estrelas, mas aquela de suas degenerações e neuroses. Todos os personagens principais que aparecem no filme sofrem de uma patologia ou possuem uma adição qualquer. Pessimista, o cineasta, como a polissemia do título permite supor, representa a morte como a única forma de liberdade e redenção possível em um meio tão depravado, cuja luta desesperada pelo sucesso, reconhecimento e prêmios pode acabar se transformando em arma letal.