Críticas


EDEN

De: MIA HANSEN-LOVE
Com: FÉLIX DE GIVRY, GRETA GERWIG, PAULINE ETIENNE
12.04.2015
Por Marcelo Janot
O universo da discotecagem é retratado com rara intimidade e precisão

Numa era em que DJs produtores se tornaram popstars, emplacando hits no mundo inteiro e recebendo cachês milionários para tocar em grandes festivais, é difícil não associar a profissão ao glamour do show business. Para mostrar que a realidade não é tão paradisíaca assim, o longa-metragem (de ficção) “Eden” volta ao início dos anos 1990, época da popularização da música eletrônica na França, acompanhando a trajetória do DJ Paul Vallée (Félix de Givry) até os dias atuais.

A jovem diretora Mia Hansen-Love é dona de uma curta mas significativa obra de quatro longas, que inclui o delicado “Adeus, primeiro amor”, exibido no Brasil. Em seus filmes, a narrativa flui sem pressa entre acontecimentos cotidianos. Os dramas pessoais se desenvolvem numa esfera afetiva familiar, sem grandes viradas de roteiro. Seus personagens são pessoas comuns, mas jamais desinteressantes.

O fato de “Eden” ter sido escrito junto com o irmão de Mia, Sven, que é DJ, faz com que o universo da discotecagem seja retratado com rara intimidade e precisão. Ao mesmo tempo em que presta um tributo a uma das vertentes da house music, o garage, e aproveita para contextualizar o surgimento de DJs produtores como o duo Daft Punk, o filme valoriza os pequenos detalhes, como uma séria discussão amorosa que é interrompida subitamente porque em instantes o DJ precisa subir ao palco e transmitir alegria para o público. A angústia de Paul ao perceber o preço que a profissão cobra, na maneira como ela afeta e sacrifica as relações sentimentais, é inversamente proporcional ao tesão que ele sente quando está na pista, seja na frente ou atrás das carrapetas.

Esse tesão pela música, aliás, é um dos pontos altos do filme. Mesmo quem não tem nenhuma intimidade com ritmos como o garage acaba se rendendo às contagiantes cenas de pista de dança, extremamente bem filmadas, com o público dançando e cantando com entusiasmo, transmitindo uma autenticidade rara de se ver em filmes com cenas de festas. De quebra, a trilha sonora é primorosa, promovendo um compêndio que vai de Frankie Knuckles a Joe Smooth, e contando com a participação especial de nomes emblemáticos como Tony Humphries, Arnold Jarvis e a diva La India, interpretando eles mesmos.

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