Críticas


PÂNTANO, O

De: LUCRECIA MARTEL
Com: MERCEDES MORÁN, GRACIELA BORGES, MARTIN ADJEMIÁN
21.07.2004
Por Daniel Schenker
A MATERIALIZAÇÃO DAS SENSAÇÕES

A verdade se manifesta em O Pântano . Fato raro, a diretora Lucrecia Martel filma sem buscar apoios em efeitos estéticos que normalmente se constituem como artificiais barreiras intermediárias entre filme e público. Sensações são materializadas na tela e vivenciadas pelos espectadores. É possível “sentir” os lençóis desarrumados na cama, os cabelos ressecados pelo cloro da piscina, as peles curtidas de sol e repletas de feridas, assim como o peso do calor e a atmosfera ameaçadora do instante anterior ao início de uma tempestade.



A cineasta capta integrantes de duas famílias, muitos deles mergulhados em total letargia e vivendo sob a perspectiva de “deitarem na cama e nunca mais se levantarem”. Não parecem mortos. Diferente disto, surgem mergulhados num profundo torpor. O estado da piscina da casa onde se passa a maior parte da “história” é bastante revelador do estado interno de cada um. “A piscina está imunda. Há anos, o filtro, a bomba, nada funciona”, dizem.



É à beira dela que se desenrola uma das primeiras – e talvez a mais perturbadora – seqüências, na qual diversas pessoas arrastam cadeiras pelo chão produzindo um som que dá a nota exasperante do filme, e uma mulher, bêbada, caminha e cai em cima dos cacos de um copo, deixando no chão uma mistura de vinho e sangue. A câmera, trôpega, se faz presente, mas não como um recurso formal e sim como tradutora da condição psicofísica das personagens.



Câmera que nem sempre assume uma inquietude. Em determinados momentos, como na passagem do garoto lavando o sangue de uma ferida numa pia abarrotada de louça, registra sem “rebeldia” a prática de uma promiscuidade (mas aqui destituída do julgamento moral normalmente associado a este termo) primitiva de corpos, ao mesmo tempo, livres e abandonados.



# O PÂNTANO (LA CIÉNAGA)

Argentina, 2002

Direção e Roteiro: LUCRECIA MARTEL

Fotografia: HUGO COLACE

Produção : MARTA PARGA

Elenco : MERCEDES MORÁN, GRACIELA BORGES, MARTIN ADJEMIÁN

Duração: 102 minutos

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