Críticas


MISS JULIE

De: LIV ULLMANN
Com: JESSICA CHASTAIN, COLIN FARRELL, SAMANTHA MORTON.
23.05.2015
Por Luiz Fernando Gallego
Se há um motivo para ver este longo "teatro filmado" é o desempenho magistral de Jessica Chastain.

Desde 1951 a peça “Senhorita Julia”, escrita em 1888 pelo sueco August Strindberg, teve nada menos do que 16 adaptações para filmes de longa metragem, incluindo aqueles feitos para a TV. A primeira destas versões, dirigida por Alf Sjöberg, também sueco - e que dirigiu alguns roteiros escritos por Ingmar Bergman - recebeu um “Grande Prêmio do Júri” em Cannes ’51. Muitas atrizes de renome já encarnaram esta que é uma das mais ricas e complexas personagens femininas jamais criadas para os palcos, papel ambicionado especialmente por intérpretes suecas - como as bergmanianas Ingrid Thulin (no teatro, em 1960), Bibi Andersson e Gunnel Lindblon (em filmes para a TV de 1969 e 1965, respectivamente), além de Lena Olin que foi dirigida pelo próprio Bergman no palco em 1991. Entre as estrangeiras, Helen Mirren, Fanny Ardant e Janet McTeer já se entregaram à tarefa de viver a moça que faz um histérico jogo de gato-e-rato com o criado Jean em uma noite de solstício de verão sueco.

Até onde foi possível pesquisarmos nenhuma das outra 15 versões filmadas chegou aos 129 minutos de duração deste filme dirigido por Liv Ullmann, sendo que a "clássica" de Sjöberg contou apenas 90 minutos. Também excelente atriz, Liv Ullmann pode ter ficado encantada com o elenco anglófono afiadíssimo que dirigiu e no qual há o destaque inevitável da interpretação avassaladora de Jessica Chastain. Embora Samantha Morton também esteja nada menos do que perfeita como a cozinheira, um papel nitidamente menor, mas não menos importante para o enredo que enlaça Julie e Jean. Este surge em também ótima composição de Colin Farrell. Mas apesar do elenco brilhante, a “segunda parte” do drama se alonga excessivamente na opção de Ullmann por um ritmo lentificado que só se sustenta pela admiração magnética que Jesica Chastain provoca.

Mesmo assim, o embate dos personagens em ritmo de "Andante" quase “Adagio” exacerba a teatralidade em detrimento do Cinema. A opção pode ter sido corajosa em si mesma, mas é aí que, em tais situações, faz falta a genialidade de um Bergman que filmou uma peça que transcorre no ambiente fechado de uma cabine de projeção durante duas horas inteiras no pouco conhecido Os Criadores de Imagens, seu penúltimo filme (para a TV) com a mesma Anita Björk - que foi a Julie inaugural em longa metragem, obviamente envelhecida mas colaborando para fazer de tal experiência mais uma obra-prima do Cinema, a despeito da teatralidade explícita.

O principal motivo para ver e até mesmo rever este filme de Ullmann será mesmo o desempenho magistral de Jessica Chastain. A atriz já esteve refinadíssima como a (também histérica) Salomé de Oscar Wilde filmada por Al Pacino (inédito em nossos cinemas) no qual também é impressionante sua intensidade dramática neste outro caso de "teatro filmado" (ainda mais radical), muito mais impactante do que qualquer ótima interpretação que ela já tenha nos dado em filmes de origem menos teatral. E em Miss Julie, cujo texto é melhor do que o de "Salomé", Jessica está ainda melhor: bigger than life.

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Outros comentários
    4109
  • Selma Weissmann
    24.05.2015 às 14:57

    Ainda não assisti mas preconceituosamente insisto que teatro bom é no teatro. Peças filmadas costumam ser entediantes.