Da Cama Para a Fama (Torremolinos 73) é um filme ultrapassado. Isto fica claro na abertura, com Alfredo, protagonista da história, rejeitado ao tentar vender enciclopédias de porta em porta. Certamente, o espectador já conferiu em outras produções seqüências de efeito cômico quase infalível como esta. Vivendo um casamento harmonioso com Carmem, Alfredo não tem refresco no dia-a-dia. No trabalho, o chefe sintetiza a situação: “É renovar ou morrer”.
Mas Alfredo e Carmem não poderiam imaginar o que o chefe queria dizer com “renovar”. As cartas são postas na mesa – demissão ou aceitar gravar as próprias relações sexuais para vídeos de natureza supostamente institucional. Eles ficam espantados. O público tende a se divertir com a, digamos, irreverência da proposta. Mas a renovação não deverá soar como nova. Afinal, não são poucos os filmes que vêm extraindo humor de situações do tipo. Além disso, a principal piada eleita é particularmente antiquada: disposto a se aprimorar no ramo pornô, agora como cineasta, Alfredo busca embasamento na filmografia de Ingmar Bergman, em especial no xadrez com a morte de O Sétimo Selo. Depois de se exercitar na divertida reedição de clichês típicos do cinema pornô, Alfredo trata de tornar seu olhar cada vez mais refinado e comprometido.
Abordando o rompimento da classe-média com um modo de vida estável e pré-estabelecido – sem perder de vista, durante a maior parte do tempo, o registro da comédia –, o diretor Pablo Berger reconduz suas personagens de volta às convenções. Diante de cartazes de belas mulheres, Alfredo só consegue sentir desejo frente a uma pequena fotografia de Carmem que, por sua vez, deixa claro que estará sempre com o marido na cama mesmo se acabar fazendo sexo com outros homens. A passagem final da fidelidade conjugal sustentada no ramo pornô à abertura para uma investida extraconjugal pode propiciar à platéia brasileira uma analogia com Walter e Eliane Gabarron, profissionais conhecidos pela exigência de manter relações apenas entre si até o momento em que foram levados a ceder às pressões de mercado. Um outro brinde personalizado: Torremolinos 73 evoca a atmosfera obsoleta das pornochanchadas da década de 70.
# DA CAMA PARA A FAMA (Torremolinos 73)
Espanha/Dinamarca, 2003
Direção: PABLO BERGER
Elenco: JAVIER CÁMARA, CANDELA PEÑA, JUAN DIEGO, FERNANDO TEJERO
Duração: 93 min.