Críticas


NINA

De: HEITOR DAHLIA
Com: GUTA STRESSER, MYRIAN MUNIZ, WAGNER MOURA, GUILHERME WEBER, JULIANA GALDINO, SABRINA GREVE, RENATA SORRAH
23.11.2004
Por Daniel Schenker
O VAZIO REINADO DA ESTÉTICA

Se conferidos separadamente, os ingredientes de Nina , longa-metragem de estréia de Heitor Dhalia, merecem aplausos: a duração econômica, a fotografia de José Roberto Eliezer, os desenhos de Lourenço Mutarelli e, em especial, a interpretação de Myriam Muniz, calcada no lento e prazeroso saborear de cada palavra colocada a serviço de um jogo perverso contra a desnorteada Nina (Guta Stresser). Méritos individuais que, porém, não se somam num resultado final orgânico.



O acabamento formal reina soberano diante do eventual desejo de Heitor Dhalia de transmitir questões existenciais ao espectador. Referência assumida, Crime E Castigo não foi potencializado na tela grande. Ao invés de Dostoievski, o público se depara com o vazio de um filme que, apesar do inegável bom gosto (na utilização das tonalidades de preto, branco e cinza e no aproveitamento da cor), não evolui para além da absoluta falta de perspectivas de sua protagonista. Ainda que tangencie uma saída ao tentar mergulhar na via-crucis de Nina, o cineasta não atinge a esfera do psíquico, permanecendo restrito à ilustração estética de uma realidade deformada em pesadelo.



O perfil exibicionista de Nina é realçado pela escalação de atores com potencial artístico muito acima do que oferecem os papéis mais que circunstanciais que interpretam. Em todo caso, a seleção não parece ocasional. As escolhas de profissionais que compõem o elenco mais valorizado pelo cinema brasileiro contemporâneo (Selton Mello, Matheus Nachtergaele, Lázaro Ramos, Wagner Moura, Aílton Graça), que alcançaram reconhecimento no teatro (Juliana Galdino, ótima atriz, lidando com personagem quase inexistente, Sabrina Greve, Guilherme Weber) e que acumularam experiência ao longo da carreira (Renata Sorrah) evidenciam o objetivo – um tanto superficial – de Heitor Dhalia de se lançar com um filme de grife.



Uma impessoalidade que distancia Nina da busca por uma personalidade própria ou mesmo da tentativa(?) de integrar a vertente das produções paulistanas da década de 80. Procurando potencial temático na urbanidade de São Paulo, o filme também não aproveita a geografia da cidade e/ou a eventual claustrofobia decorrente da opção pela permanência em (poucos) espaços interiores.



# NINA

Brasil, 2003

Direção: HEITOR DHALIA

Roteiro: MARÇAL AQUINO & HEITOR DHALIA

Produção: CAIO GULLANE & FABIANO GULLANE

Fotografia: JOSÉ ROBERTO ELIEZER

Trilha Sonora: ANTONIO PINTO

Montagem: ESTEVAN SANTOS

Desenhos: LOURENÇO MUTARELLI

Elenco: GUTA STRESSER, MYRIAN MUNIZ, WAGNER MOURA, GUILHERME WEBER, JULIANA GALDINO, SABRINA GREVE, RENATA SORRAH

Duração: 73 minutos



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