Críticas


SIDEWAYS – ENTRE UMAS E OUTRAS

De: ALEXANDER PAYNE
Com: PAUL GIAMATTI, THOMAS HADEN CHURCH, VIRGINIA MADSEN, SANDRA OH
09.02.2005
Por Daniel Schenker
SEM LUGAR NO MUNDO

É interessante notar que um filme que aborda justamente o (freqüente) descompasso entre o valor real de algumas pessoas e o pouco reconhecimento que alcançam no mundo seja candidato ao prêmio mais badalado da indústria cinematográfica. O diretor Alexander Payne vem firmando o seu lugar ao falar – pelo menos, em Sideways – daqueles que não tiveram suas qualidades consideradas. A distância entre merecimento e conquista parece ser a chave para entender o solitário Miles (muito bem interpretado por Paul Giamatti), que, diferentemente dos personagens centrais de outros filmes que concorrem este ano à mais cobiçada entre as estatuetas do Oscar, não consegue – pelo menos, até o final em aberto – dar partida à sua jornada de superação de adversidades.



Abatido pela sensação de fracasso nas esferas pessoal (sem conseguir reagir diante da separação da mulher, ocorrida dois anos antes) e profissional (na constante recusa de editoras em publicar seus livros), Miles sai em viagem pelos vinhedos da Califórnia ao lado do amigo Jack (Thomas Haden Church). A relação entre os dois parceiros, que, apesar de muito próximos, encaram de modo completamente diverso o plano afetivo, pode levar o público a suspeitar que o objetivo central de Sideways seja mergulhar no universo masculino.



Não é o caso. Jack, decidido a investir em “uma semana de loucuras” antes de se casar, até anuncia uma masculinidade ultrapassada, mas existe, sobretudo, para fazer contrapontos esquemáticos com Miles. Enquanto o primeiro está louco para viver o presente de forma tão intensa quanto irresponsável e não hesita em agir de maneira escancarada e imatura, o segundo (a figura que realmente importa no filme) permanece preso ao passado e à melancolia, é reservado, consciente e dotado de algum sentido de refinamento. Em ambos, porém, transparecem desencontros entre os tempos cronológico e emocional, com o caso de Jack notadamente mais simples do que o de Miles, na medida em que enquadrado no típico perfil de sintonia tardia com uma adolescência descerebrada.



Valendo-se de uma câmera solidária com Miles, desfocada nos momentos em que o personagem perde mais claramente o próprio eixo, Alexander Payne demonstra um certo esforço para desaparecer como o seu protagonista, sem investir, porém, numa aridez que pudesse ameaçar a fluência comercial do filme com o grande público. Em todo caso, Sideways se destaca pela ausência de destaques: poucas locações convidativas, busca de um registro de humor distante do piadista, ausência de reviravoltas suficientes na constituição de uma trama. Segue a vertente de valorizar o brilho ofuscado dos (considerados como) perdedores que preenchem a paisagem desoladora das lanchonetes.



# SIDEWAYS – ENTRE UMAS E OUTRAS (SIDEWAYS)

EUA, 2004

Direção e Roteiro: ALEXANDER PAYNE

Produção: MICHAEL LONDON

Trilha Sonora: ROLFE KENT

Fotografia: PHEDON PAPAMICHAEL

Elenco: PAUL GIAMATTI, THOMAS HADEN CHURCH, VIRGINIA MADSEN, SANDRA OH

Duração: 123 minutos



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