Críticas


O PREÇO DA FAMA

De: XAVIER BEAUVOIS
Com: BENOÎT POELVOORDE, ROSCHDY ZEN, SÉLI GMACH
23.10.2015
Por Luiz Fernando Gallego
Duplo desrespeito a Chaplin: o roubo de seu corpo e este filme indigente feito a partir do fato real.

Diretor do razoável O Pequeno Tenente (2005) e do tão sóbrio quanto superestimado Homens e Deuses, Xavier Beauvois mete os pés pelas mãos no que seria supostamente uma comédia - de humor negro - sobre o infame sequestro (que ocorreu de fato) do caixão com o corpo de Charles Chaplin, pouco após sua morte. Já seria difícil fazer graça com assunto tão macabro e desagradável, mas o que chega às telas é ainda piorado pelo fato de que a aptidão de Beauvois na área de "dramédia" é nula.

O roteiro de Etienne Conar (de Homens e Deuses e do bem fraquinho Sabores do Palácio, 2012) ainda por cima apresenta os sequestradores sob uma ótica que os "desculpa": um é sem-noção e gaiato, e o outro não tem como pagar mais de 50 mil francos suíços para o tratamento da mulher internada e sem poder trabalhar como faxineira. O sem-noção é um ladrão contumaz que lê muitos livros (?) e seria o membro cômico da dupla. Misturar melodrama com humor fazia parte do talento chapliniano do qual o filme passa a anos-luz de distância. A música bombástica/hollywoodiana de Michel Legrand (talvez sua pior trilha para filmes) tentaria - supomos - dar um aspecto de pastiche que o filme jamais atinge.

Ainda há um vergonhoso lado “chapa-branca” de alguns herdeiros de Chaplin: uma filha faz o papel da mãe, Oona, e outro faz uma aparição cameo.

ATENÇÃO: SPOILER:

Este aspecto "familiar" também se mostra na resolução pacífica que o roteiro providencia para a família ultrajada em relação aos sequestradores que serão perdoados e ajudados com a grana para o tratamento da doença da mulher de um deles. Um duplo desrespeito ao grande artista que foi Chaplin: o roubo de seu corpo e este filme indigente.

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