Críticas


DHEEPAN – O REFÚGIO

De: JACQUES AUDIARD
Com: JESUTHASAN ANTHONYTHASAN, KALIEASWARI SRINIVASAN, CLAUDINE VINASITHAMBY.
28.10.2015
Por Luiz Fernando Gallego
Ótimo retrato de imigrantes asiáticos na Europa, apesar do desfecho de ação insatisfatório.

Embora tanto o diretor Jacques Audiard como o roteirista Noé Debré de Dheepan- o refúgio evitem considerar o filme como “político”, este é seu melhor aspecto. Não deixam de ser pertinentes suas afirmações sobre a configuração inicial ser como a de um “filme de guerra”, e em seguida tenha o tratamento de “documentário social” que vai se transformar em “filme de ação”. Mas Audiard preferiu considerar que sua obra é mais “política” por usar atores (quase “não-atores”) que não poderiam ser brancos e que falam a língua dos personagens (tamil), naturais do Sri Lanka. E o roteirista chegou a dizer que “não é um filme sobre imigração”.

No entanto, o melhor do filme é justamente sua pegada de jeitão documental sobre imigrantes fugidos de uma guerra na Ásia, mas sujeitos a novas “guerrilhas” urbanas (de gangsters e traficantes) na França. Podemos até supor que os realizadores quisessem chamar a atenção para o lado que julgam mais popular ou mesmo “comercial” do filme, o que eles caracterizam como “filme de ação”, e que é justamente seu aspecto menos satisfatório - incluindo-se a “transformação” (ou retomada) de perfil original do personagem masculino, e as elipses: tanto nas cenas “de ação” como no salto para as cenas finais em outra ambientação (*).

Tudo se desenvolve muito bem quase o tempo todo no que o filme traz de mais realista sobre imigrantes e na caracterização da relação estabelecida entre um homem, uma mulher e uma adolescente que assumiram ser uma família - que nunca foram - para conseguir asilo europeu, mas cada um com interesses diferentes e projetos antagônicos. A mulher e a adolescente estreantes como atrizes e Jesuthasan Antonythasan, pela segunda vez em frente às câmeras, com todos os seus hábitos, religião e cultura não-ocidentais conquistam a empatia do espectador pela naturalidade de composição dos personagens e demonstração de suas angústias, seja no que manifestam, falam, demonstram, seja em silêncios repletos de significados.

A câmera de Audiard reafirma a qualidade demonstrada em filmes anteriores, tanto nos enquadramentos em planos gerais como nos planos fechados dos rostos. E a edição experiente de Éponine Momenceau é outro trunfo que colabora enormemente para manter o interesse do público em relação ao dia-a-dia dos imigrantes.

Até mesmo na preparação para os momentos “de ação” tudo vai muito bem, mas o final precipitado nos pareceu algo decepcionante em relação ao todo. Ainda assim, um filme ao qual não se fica indiferente, embora a Palma de Ouro em Cannes pareça exagerada.

(*)ATENÇÃO SPOILER

É estranha a cena final em uma Londres paradisíaca tão diversa do banlieu sujo e violento de Paris, como se o que acontece em território francês não pudesse ocorrer na Inglaterra

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