Críticas


OS 33

De: PATRICIA RIGGEN
Com: ANTONIO BANDERAS, RODRIGO SANTORO, JULIETTE BINOCHE, GABRIEL BYRNE
02.11.2015
Por Carlos Alberto Mattos
Boa produção sabotada por embalagem americanizada

De um lado, há a realidade do acontecimento, que o mundo acompanhou há exatos cinco anos. Os 33 trabalhadores que ficaram presos durante 68 dias no refúgio de uma mina no Chile antes de serem resgatados, todos com vida e saúde. De outro, há a formatação hollywoodiana que constantemente sabota o teor de realidade do que é mostrado. OS 33 é um cabo-de-guerra entre essas duas forças opostas: o fato e o formato, o Chile e o clichê.

É sintomático que nenhum dos quatro heróis seja interpetado por um ator chileno. O herói mineiro é defendido pelo espanhol Antonio Banderas; o herói político, pelo brasileiro Rodrigo Santoro; o herói técnico, pelo irlandês Gabriel Byrne; e a heroína popular, pela francesa Juliette Binoche. O primeiro contato que temos com os mineiros é ao som de Jailhouse Rock cantado por um deles, apelidado de “Elvis”. Logo em seguida, temos que acostumar os ouvidos a operários, seus familiares e políticos chilenos falando em inglês. Ou seja, é muita sabotagem.

Este é o preço a pagar por uma produção de certa envergadura, que consegue recriar de maneira bastante sugestiva o interior da imensa Mina San José. Se as sequências do desabamento e da corrida para o refúgio sucumbem ao caráter espetaculoso do filme-catástrofe, as cenas do resgate chegam bem perto de uma emoção genuína. Entre uma ponta e outra da cronologia, o filme se reparte entre o cotidiano dos mineiros debaixo do solo, com seus conflitos e dilemas de sobrevivência, a angústia das famílias e os trâmites políticos e tecnológicos do resgate.

A diretora mexicana Patricia Riggen adota uma encenação tipicamente americana, na qual os atores mais parecem mimetizar chavões de interpretação do que internalizar devidamente seus personagens. E isso inclui La Binoche, como uma Maria do povo, e o nosso Santoro, como o Ministro da Mineração, todos bastante unidimensionais. A construção da liderança de Mario Sepúlveda entre os mineiros soterrados é mostrada sem qualquer sutileza, como se chegasse por um milagre de dramaturgia. Outro milagre se dá na “última ceia” dos mineiros, quando o docudrama se permite uma licença poética para materializar a imaginação dos homens famintos recebendo a visita de suas amadas com quitutes deliciosos.

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