Especiais


BOLLYWOOD ESTÁ NO MAM

11.04.2005
Por Carlos Alberto Mattos
BOLLYWOOD ESTÁ NO MAM

Os indianos vão ao cinema como os cariocas vão à praia. Não se importam de passar até quatro horas diante de uma tela onde tudo se mexe sem parar. Com uma diferença: eles não precisam de tempo bom para mergulhar em sua diversão favorita. A saison cinematográfica dura o ano inteiro – e são cerca de 800 filmes por ano, todos nacionais. Um cinema de multidões (2,8 bilhões de espectadores/ano, 13 mil salas), cujos astros são cultuados quase como Shiva ou Gandhi.



Um pequeno mas significativo panorama histórico dessa febre é o que oferece a mostra “Bollywood Fica na Índia”, promovida pelo Consulado Geral da Índia em São Paulo. Depois de fazer sucesso na capital paulista, ela desembarca nesta sexta-feira, 15 de abril, na Cinemateca do MAM do Rio de Janeiro. As cópias são legendadas em espanhol.



O termo Bollywood refere-se à produção industrial de filmes concentrada principalmente em Bombaim. Não espere os dramas clássicos e contemplativos de Satyajit Ray, nem o cinema “sério” de Mrinal Sen. Nem mesmo o social light de Mira Nair (Um Casamento à Indiana) ou Deepa Mehta (Fogo e Desejo), duas emigradas que resumem o conhecimento de muita gente sobre o cinema indiano atual. A produção de Bollywood é escancaradamente popular. Cada filme faz cruzar pelo menos três gêneros diferentes, onde não faltam romance (sem beijos nem sexo), bons sentimentos, algum patriotismo, um pouco de violência (sem derramamento de sangue) e muita, muita música e dança. Cenografia e figurinos são coloridos e extravagantes; as cenas e ambientes oníricos invadem a realidade sem cerimônia; tudo é ênfase, mensagem e movimento.



As duas últimas edições do Festival do Rio trouxeram alguns exemplares recentes dessa pirotecnia audiovisual. Filmes como Devdas e Lakshya surpreenderam a platéia pela extrema habilidade técnica e o encanto ingênuo (brega, vá lá; adocicado, sem dúvida) das tramas.



O cinema industrial indiano é extremamente diversificado e, a rigor, não cabe inteiro no rótulo Bollywood. Mas, para o espectador brasileiro, tanto faz se um filme desses é falado em hindi, tamil, bengali ou outra das 16 línguas mais correntes no país, de acordo com a região. O que vale é checar a receita de um cinema totalmente afiado com o gosto médio do povo e que, ao mesmo tempo, procura “elevá-lo” pelo enaltecimento do espírito artístico, das intenções nobres e da coragem em enfrentar preconceitos.



A mostra do MAM destaca quatro filmes de Raj Kapoor (1924-1988), uma espécie de patrono do cinema de massas indiano. O lendário Awaara / O Vagabundo (1951) é tido como um dos primeiros filmes “proletários”, evocando a vida de um rejeitado social e discutindo a matéria de que se constrói a moral individual. Como o título sugere, Kapoor acolheu a influência de Chaplin e a adaptou à temática e à estética de seu país. Awaara é famoso também por uma seqüência de sonhos de nove minutos, rodada em estúdio durante três meses. De Kapoor serão exibidos ainda os megahits Shree 420 / Senhor 420 (1955), Sangam / A Confluência (1964) e Bobby (1973)



Garam Hawa / Ventos Quentes, de 1973, é o que mais parece fugir do padrão Bollywood. M.S.Sathyu representa, segundo divulgação da mostra, “uma geração de cineastas marxistas que retratam as dificuldades da minoria islâmica no norte da Índia”. É de se esperar um tratamento mais realista e frontal de questões como imigração e especulação imobiliária. Os demais filmes trazem plots bastante característicos: moça salva do mercado da prostituição (Moondram Pirai), poeta desesperado nas ruas de Calcutá (Pyaasa / O Sedento), jovem engenheiro às voltas com o mercado de trabalho de Bombaim (Raju Ban Gaya Gentleman), empregado fascinado pela mulher do patrão (Sahib Bibi Aur Ghulam / Rei, Rainha e Escravo). O filme mais recente na programação é Karan Arjun / Karan e Arjun, de Rakesh Roshan (1995), uma história de fé, reencarnação e reconhecimento entre dois irmãos.





A PROGRAMAÇÃO

Dia 15, sexta: 18h30 Awaara

Dia 16, sábado: 15h Shree 420. 18h Pyaasa

Dia 17, domingo: 15h Sahib Bibi Aur Ghulam. 18h Sangan

Dia 22, sexta: 18h30 Garam Hawa

Dia 23, sábado: 15h Bobby. 18h Moondram Pirai

Dia 24, domingo: 15h Raju Ban Gaya Gentleman. 18h Karan Arjun

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário