Críticas


BOI NEON

De: GABRIEL MASCARO
Com: JULIANO CAZARRÉ, MAEVE JINKINGS, SAMYA DE LAVOR, JOSINALDO ALVES
15.01.2016
Por Luiz Fernando Gallego
O filme expõe sua tese de modo repetitivo e tão esquemático quanto os estereótipos de gênero que desconstrói .

Os bois das vaquejadas são vistos frequentemente aprisionados em currais, mas os personagens de Boi Neon não se prendem a estereótipos. Uma mulher é segurança noturna de uma fábrica e também vende perfumes a domicílio durante o dia; grávida, não dispensa uma transa apimentada – e por que dispensaria? Outra dirige caminhão, chefia uma equipe de vaqueiros e se exibe em roupa sensual usando uma máscara equina - uma performance e tanto. Um dos vaqueiros vive cuidando dos cabelos longos, outro costura, sonha em ser estilista e conhece perfumes que ajudam a afastar o cheiro de seu trabalho com a boiada. Papéis sociais “masculinos” e “femininos” se mesclam em cada personagem, sem que na hora do sexo, deixem de ser héteros: afinal, “isso não é coisa de homem” ou “isso não é coisa de mulher” se referem a antigos preconceitos que vêm perdendo a rigidez ao longo dos últimos tempos.

Do mesmo modo, uma conformação menos rígida em novas relações familiares pode se estabelecer entre alguns dos personagens: há uma menina queixosa da falta do pai biológico que tenta colocar um dos vaqueiros neste papel, enquanto sua mãe transa com um outro vaqueiro. Tudo isso fica bem evidente - e algo esquemático - no argumento (vale o termo) de Boi Neon. O diretor-roteirista parece estar suficientemente satisfeito com a exposição de tais situações de base e com o aspecto – digamos – bem documental de seu filme.

Se por um lado o que ele tem para mostrar é visualmente elegante e interessante, não deixa de ser também o que limita o roteiro e o filme à vertente expositiva sem inclinação por desenvolver um arco para os personagens. Isso deixa tudo com um rarefeito ar de demonstração de tese já pronta a priori, e o que se tem a dizer fica algo esquemático devido às ênfases repetitivas, ainda que disfarçadas pela direção um tanto blasé com seus planos longos de cenas que não necessariamente formam um fio de enredo ficcional. Certamente isto não é uma falha de algo pretendido e não realizado - e, sim, uma opção consciente do realizador, mas o que é tão enfatizado acaba por soar um tanto óbvio e mesmo algo gratuito, como o que diz respeito à virilidade do personagem vivido por Juliano Cazarré cujo pênis é destacado em pelo menos três momentos: urinando (em tomada de perfil),na cena dos vaqueiros tomando banho de tina, e no que é entrevisto quando ele faz sexo com a moça que é segurança na fábrica de confecção. A questão não é moral, mas de ênfase dispensável.

O mundo da vaquejada pode ter um foco de interesse para o espectador urbano, mas a (boa e politicamente correta) tese autossustentada fica repetitiva e tão estereotipada e esquemática como eram os clichês de gênero que o filme desconstrói .

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