Críticas


FIQUE COMIGO

De: SAMUEL BENCHETRIT
Com: GUSTAVE KERVERN, MICHAEL PITT, ISABELLE HUPPERT
19.03.2016
Por Marcelo Janot
O diretor e roteirista encontra o equilíbrio perfeito entre a ternura e a melancolia para tratar do tema da solidão.

A comédia francesa FIQUE COMIGO (“Asphalte”) reúne três histórias envolvendo moradores de um prédio de periferia. Em comum a todas elas, a solidão que envolve os personagens. A primeira começa com uma reunião de condomínio. Discute-se a necessidade de se adquirir um novo elevador. Sterkowitz (Gustave Kervern) se recusa a pagar sua parte, alegando que mora no primeiro andar, e, portanto, não usa o elevador. “Você conhece o significado da palavra ‘solidariedade’?”, alfineta o síndico. Ao ficar confinado a uma cadeira de rodas, ele é obrigado a encontrar uma estratégia para poder usar o elevador sem ser notado.

A montagem reforça o aspecto surrealista da trama. A inserção, em meio ao episódio anterior, de breves cenas de um astronauta americano (Michael Pitt) no espaço deixam o espectador intrigado, até que o mistério é desfeito quando sua cápsula cai justamente no terraço do prédio e ele é acolhido por uma senhora de origem árabe. O choque cultural advindo daquela situação inusitada rende as melhores piadas do filme, que aposta num tipo de humor lacônico que por vezes faz lembrar as comédias de Jacques Tati, ainda mais porque a ambientação urbana é fundamental na trama.

A terceira história traz Isabelle Huppert na pele de uma veterana atriz de sucesso que acaba de se mudar para o prédio. Alcoólatra e em declínio, ela faz amizade com um adolescente que vive praticamente abandonado no mesmo andar.

As tramas correm em paralelo, sem que os personagens se cruzem. Ao final, eles talvez não encontrem a cura para a solidão, mas passarão a entender melhor o que significa a tal da “solidariedade”, cada vez mais rara na clausura individualista da vida moderna. O diretor e roteirista Samuel Benchetrit encontra o equilíbrio perfeito entre a ternura e a melancolia para tratar do tema, resultando em um belo filme.



(Publicado originalmente no jornal O Globo em 03.03.2016)

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