Há anos que o cinema espanhol vive bom momento artístico e comercial, para além dos nomes mais óbvios e aclamados (Almodóvar à frente de um posto que até fim dos anos 80 era de Carlos Saura). Tapas é um típico filme mediano, com toda a carga simbólica possível referente a intenções, universo retratado e resultado final.
O filme traz historietas que se entrelaçam em bairro de uma cidade, trazendo os seguintes personagens: Mariano e Conchi, casal de aposentados que temem a solidão e as enfermidades; Raquel, uma mulher de meia-idade que vive um caso de amor pela Internet; Cesar e Opo, dois jovens de futuro incerto que trabalham no supermercado e planejam juntos umas férias; e Lolo, dono de um bar que tem sua vida mudada a partir de sua relação com Mao, o novo cozinheiro.
Modestas tramas cujo tratamento cinematográfico procura traduzir uma sensação de afetividade, de sentimentos realistas, de gente comum de classe média (o filme já abre com Rachel de costas para a câmera discretamente se masturbando em frente do computador). Claro, por trás desta modéstia há uma mão artística (ou melhor quatro, já que dupla divide roteiro e direção), que preenche essa suposta placidez e transparência com conteúdo satírico e análise humana. Sobram inclusive diatribes antireligiosas e de cunho político, suaves e informais. Este é daqueles filmes em que a força da direção se faz sobretudo numa imagem límpida, num trabalho de câmera modesto e na direção de atores. Todos estão bem, e isto ajuda o filme, mas não ajuda a obviedade de diversas passagens, a conclusão desequilibrada, e antes de qualquer coisa, o desnível entre as historietas. A melhor delas, e que bem feita poderia render um filme isolado, é da amizade calma que surge entre o ranzinza dono do bar (cuja mulher e cozinheira fugiu) e o cozinheiro chinês.
# TAPAS (Tapas)
Espanha, 2005
Direção e roteiro: JOSÉ CORBACHO, JUAN CRUZ
Fotografia: GUILLERMO GRANILLO
Montagem: DAVID GALLART, LILIANA NADAL
Música: ANTONIO OROZCO, PABLO SALA
Elenco: ÁNGEL DE ANDRÉS, MARÍA GALIANA, ELVIRA MÍNGUEZ, RUBÉN OCHANDIANO, DARÍO PASO
Duração: 94 minutos
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