O Fim e o Princípio é a concretização de um anunciado desejo de Eduardo Coutinho: fazer um filme sem pesquisa prévia. Juntamente com sua equipe, o diretor viajou até o sertão da Paraíba (São João do Rio do Peixe), escolheu uma moça da região, Rosa, como guia (cuja participação é definida nos créditos finais como mediadora) e começou a conversar com as pessoas. “Nós queremos ouvir histórias. Você não tem uma vida?”, pergunta.
Mas o novo trabalho de Coutinho não deve ser visto como uma entrevista sem pauta. Afinal, em O Fim e o Princípio , nada é aleatório. Não por acaso, o diretor adota como personagens homens e mulheres idosos, concretamente mais próximos da morte, convidando-os a relembrar suas trajetórias: infâncias pobres, casamentos bons ou ruins, a solteirice, os filhos que tiveram e os que acabaram vingando. E a morte, reaparecendo a cada conversa. O fim da vida num filme em eterno princípio.
Num dos raros momentos de inclusão direta, Eduardo Coutinho assume seu medo da morte. Diante de outras questões altas, não fornece respostas definidas, diferentemente de muitos dos entrevistados, firmes diante de suas faltas de desconfiança em relação às próprias crenças. Mas o autoquestionamento aparece: “Penso que sei. Será que sei?”. As transições autênticas têm importância para Coutinho, sempre à cata de flagrantes de humanidade. Num dado instante, destaca a preparação de uma transição emocional por um entrevistado. “O senhor preparou a mudança. Podia ser ator de cinema”, diz, distinguindo talvez entre a expressividade natural de uma pessoa e a expressividade construída da representação. Eduardo Coutinho, ao que parece, busca o anti-cinema.
# O FIM E O PRINCÍPIO
Brasil, 2005
Direção: EDUARDO COUTINHO
Duração: 110 minutos