A crescente pirataria de CDs e a popularização dos DVDs fez as gravadoras passarem a investir nos dois mercados simultaneamente. Assim, praticamente todo CD dos principais artistas da MPB que chega às lojas vem acompanhado de um DVD, que traz imagens de shows, bastidores de gravação do disco, entre outras curiosidades. Com isso, o lançamento de um documentário musical nos cinemas só passa a se justificar quando se vale de elementos não encontráveis nos DVDs lançados aos montes. A opção por um rigor cinematográfico no registro, como fez João Moreira Salles em Nelson Freire, por exemplo, é um caminho. Ou a ambição de Miguel Faria Jr. em Vinicius, que ultrapassa os limites do biografado para contar musicalmente a história de uma época.
Maria Bethania – Música é Perfume, do cineasta franco-suíço Georges Gachot, é agradável de se assistir – porque, ora bolas, tem Maria Bethania em cena e cantando quase o tempo todo. Mas não acrescenta nada ao formato de documentário televisivo ou “feito para DVD”. Bethania é daquelas artistas que tem pavor de ser flagrada na intimidade, portanto Gachot consegue pouquíssimos progressos nesse campo – um pouco da “intimidade” de Bethania pode ser vista nos extras do DVD Tempo, Tempo, Tempo, Tempo, que acabou de ser lançado.
Restam então três Bethanias a serem flagradas pelo documentário. A primeira é a intérprete magistral, que brilha no palco e enche a tela do cinema hipnotizando a platéia; a segunda é a Bethania do estúdio, dos ensaios, perfeccionista, meticulosa e fiel ao diretor musical Jaime Alem; a terceira é a Bethania que surge nos depoimentos do mano Caetano e da mãe Dona Canô, de Gilberto Gil, Chico Buarque, entre outros, que pouco acrescentam à faceta conhecida da personagem. A participação de Miucha e Nana Caymmi, longa demais, desequilibra o documentário, que no fim das contas parece ter bem mais que seus 80 minutos de duração. Nada que impeça o fã de sair cantando do cinema, mas esperar para vê-lo em casa não seria má idéia.
# MARIA BETHANIA – MÚSICA É PERFUME
França/Brasil, 2005
Direção e Produção: GEORGES GACHOT
Fotografia: MATTHIAS KALIN
Montagem: ANJA BOMBELLI, RUTH SCHLAPFER
Duração: 82 min.
