Ao final de LION: UMA JORNADA PARA CASA, aparece em forma de texto a informação de que há 11 milhões de crianças vivendo sozinhas nas ruas da Índia, e que 80 mil se perdem a cada ano. Em seguida, vem o link para a campanha de doação de recursos promovida pelos produtores junto a uma instituição de caridade.
A iniciativa é louvável, mas só reforça a impressão que o filme do diretor estreante Garth Davis deixa ao longo de suas duas horas: a de se tratar de um vídeo de luxo da UNICEF, com atores famosos e uma equipe técnica competente para contar uma história edificante, de superação e que sirva de exemplo e inspiração no que diz respeito a temas como a adoção e o drama das crianças de rua. Nada muito diferente do que o filme brasileiro “Pequeno Segredo” tentou fazer mirando uma indicação ao Oscar. “Lion” chegou lá (o que para muitos pode até parecer um exagero), só que teve o mérito de não cometer tantos erros quanto o dramalhão tupiniquim.
O expressivo ator mirim Sunny Pawar, o pequeno Saroo, é o grande responsável por segurar a primeira metade, que mostra a incrível odisseia de uma criança de 5 anos depois de embarcar por engano num trem que o deixará abandonado à própria sorte em Calcutá. Havia um receio de que “Lion” cometesse os mesmos equívocos de “Quem Quer Ser Um Milionário?”, mas o roteiro e a direção conseguem evitar o olhar deslumbrado sobre a miséria terceiro-mundista. O problema é que na segunda metade a narrativa emperra em longos hiatos, e o núcleo familiar na Tasmânia acaba pouco desenvolvido em detrimento da obsessão de Saroo, que só resulta no desperdício da atriz Rooney Mara em papel figurativo e no explícito merchandising da Google (que, espero, seja a principal doadora para o projeto de caridade).
