Críticas


A PROMESSA

De: TERRY GEORGE
Com: OSCAR ISAAC, CHARLOTTE LE BON, CHRISTIAN BALE
18.05.2017
Por Marcelo Janot
O ótimo elenco torna a trama romântica crível, sem nunca deixar o genocídio armênio em segundo plano.

Embora o primeiro filme realizado sobre o genocídio armênio, “Ravished Armenia”, tenha sido lançado em 1919, durante o massacre que resultou na morte de 1,5 milhão de armênios, o cinema nunca deu à tragédia a merecida atenção. Passado um século, enquanto o governo da Turquia ainda se nega a reconhecer o Holocausto perpetrado em seu território nos últimos anos do Império Otomano, a arte cumpre o papel de não deixar que, em tempos de pós-verdade, essa página triste da história da humanidade seja esquecida.

Antes de morrer, em 2015, o bilionário americano Kirk Kerkorian, filho de imigrantes armênios, investiu US$ 100 milhões na realização de “A promessa”, permitindo que o filme dirigido por Terry George (“Hotel Ruanda”) ganhasse ares de superprodução. É um orçamento compatível com o que se vê na tela. O filme tem uma reconstituição de época primorosa e algumas cenas de ação que não deixam nada a dever a épicos hollywoodianos.

Há um foco grande, porém, no lado humano da tragédia. “A promessa” está mais centrado no drama de seus personagens do que nas maquinações políticas e seus resultados. Se enveredasse pelo caminho de um novelão sobre um triângulo amoroso, isso poderia representar uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo em que amplia seu alcance de público, perde a credibilidade histórica. Mas o ótimo elenco encabeçado por Oscar Issac, Charlotte Le Bon e Christian Bale segura a peteca e torna a trama romântica crível, sem nunca deixar o genocídio em segundo plano. A toda hora somos lembrados das atrocidades cometidas, com um realismo que não procura poupar o espectador. Um filme extremamente necessário, que serve como complemento para o ótimo “Uma história de loucura” (2015), de Robert Guédiguian, que evoca os reflexos que o holocausto armênio produzem nos dias atuais.



(publicado originalmente em O Globo de 12.05.17)

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