Em 2013 a dupla de diretores Fabio Grassadonia e Antonio Piazza estrearam em longa-metragem com Salvo – uma história de amor e máfia, narrando de forma original e bem-sucedida uma história que já havia sido muito explorada pelo cinema: o assassino que se deixa envolver pela vítima que deveria matar. Quatro anos depois, a dupla volta a um enredo envolvendo amor e máfia, e novamente buscam um modo original de desenvolvê-lo, mas trocando o clima meio “sujo” do filme anterior, passado em interiores, por uma embalagem formal que busca a beleza em exteriores, ainda que contrastando com alguns ambientes fechados claustrofóbicos (a sauna da mãe da adolescente Luna, o cativeiro em que outro adolescente, Giuseppe, é colocado).
Louve-se a ousadia de criar um roteiro no qual um fato policial corriqueiro (ainda que sempre chocante) da Sicília dominada pela máfia ganhe toques fantásticos, fazendo lembrar contos de fadas (ou de bruxos) e até mesmo com uma hipótese de comunicação telepática; afinal, pode-se escolher: os adolescentes enamorados e brutalmente separados fantasiam um com o outro à distância? Ou “sabem” o que lhes acontece mesmo sem conviverem?
A ousadia da proposta não ganhou, entretanto, um resultado satisfatório. Há um excesso de detalhes sobre a família da jovem Luna (o pai diabético tomando insulina, complacente, mas passivo em confronto com a mãe fria, distante e castradora, enfatizando o aspecto bruxa ou madrasta de contos infantis) que nem sempre colaboram para o andamento do filme pelo enorme espaço dispensável que ocupam.
Também a narrativa visual, eventualmente rebuscada em ângulos e enquadramentos, enfocando a natureza tão bonita quanto eventualmente ameaçadora (florestas, cães agressivos, lagos sombrios) acaba por lembrar um esteticismo datado de filmes de décadas atrás. A impressão que fica é que os diretores-roteiristas evitaram o que fizeram no filme de estreia, o que pode ser criativo, mas indo a um extremo oposto academicista que não casa tão bem com a dramaticidade do fato central que dispara a história. É óbvio que eles quiseram acentuar um contraponto à maldade mafiosa através do amor romântico de Luna por Giusppe, ambos com seus 12, 13 anos de idade, mas a receita desanda pelo ritmo pausado do filme que se alonga em 120 minutos que chegam a pesar. Surge uma cena que parece o final, seguida de outra que seria um novo final e mais outra...
Em Salvo havia um único elemento meio surrealista em meio a uma narrativa realista/naturalista. No novo filme os diretores se detiveram excessiva e alongadamente desde a abertura em elementos “sugestivos” do que seria visto bem depois de modo realista. Os sonhos e/ou fantasias de Luna com Giuseppe, assim como o que pode ser fantasia de Giuseppe por si mesmo (ou dentro das fantasia de Luna?) deve ter parecido aos autores muito boa ideia. De fato, seriam ótimas ideias se sofressem mais contenção do que extensão.