Críticas


LUCKY

De: JOHN CARROLL LYNCH
Com: HARRY DEAN STANTON, DAVID LYNCH, ED BEGLEY JR., RON LIVINGSTON
18.12.2017
Por Luiz Fernando Gallego
Um dos maiores desempenhos de Harry Dean Stanton em filme tão sóbrio como bem humorado em tema delicado.

A auspiciosa estreia na direção do ator John Carroll Lynch ficará mais conhecida como filme-testamento do ator Harry Dean Stanton para quem o filme parece ter sido concebido. Mesmo que não tenha sido o caso, é como um daqueles cuja autoria merece ser dividida com o protagonista, tal é a intensidade com a qual o intérprete vive o personagem e domina o filme do início ao fim.

As frequentes paisagens semidesérticas lembram outra participação marcante do ator: Paris, Texas, de Win Wenders. E no elenco de apoio (posição mais frequente de Harry Dean Stanton nos 200 filmes dos quais participou) há atores de outros filmes marcantes em que Harry esteve, mesmo que longe do protagonismo. É o caso de Tom Skerrit que também esteve em Alien – o oitavo passageiro. Aliás, o elenco de apoio é outro luxo deste “pequeno” grande filme, incluindo a presença do cineasta David Lynch (nenhum parentesco com John Carroll Lynch) numa rara participação como ator em destaque no cast. Grande parte, veteranos na terceira idade. Ou mais, como Harry que morreu pouco antes da estreia de Lucky, aos 91 anos. Mas também há coadjuvantes nem tão idosos, como Ron Livingston no que mais se aproximaria de um papel “antagonista” ainda que sem chegar a tanto - o que também demanda capacidade do ator em despertar empatia.

Mas quem pontifica, presente em todas as cenas é mesmo Harry Dean que consegue comover sem pieguice alguma quando canta em castelhano numa pequena fiesta de aniversário de criança.

Forografia, edição, trilha musical, tudo se combina de modo harmonioso para fazer deste lançamento, quase no final de 2017, como um dos melhores do período - que foi bem mais satisfatório do que em anos recentes. Mesmo assim, Lucky se destaca por sua simplicidade (sem ser simplório) na abordagem de uma vida avançada, portanto, também perto do fim. A cena com Ed Begley Jr. como médico do personagem Lucky é um ótimo resumo do que dissemos: tão bem humorada como sóbria - difícil combinação que o filme consegue de modo tocante ao abordar a proximidade da morte sem um clima "solene".

Ainda há outro filme com Dean Stanton para ser lançado, mas este, ao lado de Paris, Texas deverá ser um dos que melhor demonstra o talento do ator.

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