Embora as referências míticas assumidas no filme sejam o Gênesis e cosmogonias pré-colombianas, é a dolorosa perda da amada, tal como a experimentou Orfeu, que se faz lembrar de modo onipresente em Fonte da Vida. Se o projeto já não existisse há tanto tempo, previsto originalmente para Brad Pitt e Cate Blanchett, poderíamos pensar que o diretor Darren Aronofsky (de PI e Réquiem por um Sonho) estaria apavorado de perder sua companheira fora das telas, a bela Rachel Weisz. O inconformado médico que tenta desesperadamente um novo tratamento para o câncer da esposa é Hugh Jackman, carregando o filme nas costas, tanto nesta como em outra situação análoga: a de um conquistador espanhol que vai buscar a fonte da juventude nas recém-descobertas Américas para a Rainha de Espanha (novamente Rachel, ainda mais linda).
No mais, é Darren Aronofsky repetindo seus cacoetes de montagem e acentuando o uso de tomadas "de cima", como se tudo fosse visto numa lente de microscópio: macro e micro se alternam como faces da mesma moeda – vida e morte, supercloses e visões cósmico-metafísicas em uma espécie de terceira "encarnação" do "conquistador" Jackman num cenário que lembra o planeta do Pequeno Príncipe com seu enorme baobá. Fotografia deslumbrante e música new age reproduzem o esteticismo estiloso do cineasta embalando essa busca de vida além da morte, apesar da morte, ou por isso mesmo num clima de eterno retorno. Prato para junguianos e talvez fãs de Paulo Coelho.
# A FONTE DA VIDA (THE FOUNTAIN)
EUA, 2006
Direção e roteiro: DARREN ARONOFSKY
Elenco: HUGH JACKMAN, RACHEL WEISZ, ELLEN BURSTYN
Duração: 96 minutos