As primeiras cenas podem fazer supor que teremos uma espécie de nova versão de O Rosto, de Ingmar Bergman, onde um mágico tinha seus poderes sobrenaturais questionados por representantes da nobreza, da ciência e da lei. Afinal, Paul Giamatti interpreta um inspetor de Viena em fins do século 19 e está prendendo o ilusionista do título (Edward Norton), acusado de materializar espíritos de gente morta em teatros. Truque ou encantamento? Mas este filme não pretende discutir razão versus fantasia, nem esta Viena (interpretada por Praga em bela fotografia sépia), apesar da época, não tem nada de Mahler, Freud ou Klimt. O roteiro está mais para uma trama rocambolesca à base de charadas e ilusionismo. E nem pretende um pano-de-fundo minimamente parecido com a realidade histórica: o homem mau da história é um suposto príncipe herdeiro do Imperador Franz Joseph, um tal "Príncipe Leopoldo", que nunca existiu e usa um bigode de vilão de opereta (pelo menos operetas lembram Viena).
Cuidados de produção como na fotografia, a habitual boa interpretação de Giamatti e a música (como sempre, mais insistente do que necessário) de Philip Glass poderão agradar a quem goste de filmes de época à moda antiga. Mas, mesmo querendo se divertir e se iludir, muita gente vai sentir falta de alguma alusão mais esperta ao jogo de verdades e mentiras dos palcos, mágicas e filmes (mencionados brevemente). Mas quem mandou pensar em mágicas de Orson Welles ou em discussões de Bergman sobre o ilusionismo das artes?
# O ILUSIONISTA (THE ILLUSIONIST)
EUA/República Tcheca, 2006
Direção: NEIL BURGER
Elenco: EDWARD NORTON, PAUL GIAMATTI, JESSICA BIEL, RUFUS SEWELL
Duração: 110 minutos
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