No filme italiano O Amigo da Família encontramos, na verdade, um terrível inimigo, um agiota de romance de Balzac ou Dickens em pleno século XXI, insensível, capaz de tudo para lucrar com seus empréstimos de pequena monta a uma classe média falimentar. Se o roteiro isoladamente repetiria um melodrama tradicional sobre usura e avareza, a filmagem procura ser modernosa com um resultado (intencionalmente?) grotesco como o personagem e o ator que o interpreta.
Sem a simpatia da gula e a fascinação da luxúria, seria o tema em si mesmo o que faz o filme tão desconfortável? Afinal, trata-se de um dos pecados capitais menos explorados nas artes, um dos mais mesquinhos e vis, sem atenuante alguma. O filme pretendia mesmo ser desagradável? Neste caso, até teria algum mérito. Se fosse mais didático nas conseqüências dos juros a la Shylock, serviria para advertir nossa classe média e aposentados seduzidos por artistas populares em propagandas enganosas de "dinheiro fácil". Depois de farmácias, o negócio que mais cresce nas ruas do Rio é o de "bancos de empréstimo". A agiotagem legal e oficial mereceria um filme brasileiro - e de preferência melhor do que este, muito bizarro para ser recomendado. Mas quem recomendaria um agiota?
# O AMIGO DA FAMÍLIA (L’AMICO DI FAMIGLIA)
Itália, 2006
Direção e roteiro: PAOLO SORRENTINO
Elenco: GIACOMO RIZZO, FABRIZIO BENTIVOGLIO, LAURA CHIATTI, GIGI ANGELILLO, CLARA BINDI
Duração: 110 minutos