Críticas


FESTIVAL DO RIO 2006: O HOMEM QUE VIROU SUCO

De: JOÃO BATISTA DE ANDRADE
Com: JOSÉ DUMONT, CÉLIA MARACAJÁ, DENOY DE OLIVEIRA
22.09.2006
Por Carlos Alberto Mattos
A CLASSE OPERÁRIA NÃO FOI AO PARAÍSO

O Homem que Virou Suco é o quinto clássico restaurado pelo Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro em seis anos, sempre com o patrocínio da Petrobras. Quando foi lançado, em 1980, o mais notório filme de João Batista de Andrade causou impacto cultural, apesar de uma distribuição comercial medíocre. Foi mais exibido no circuito alternativo que nos cinemas e praticamente “redescoberto” depois de vencer ex-aequo o Festival de Moscou.



O filme confirmou o imenso talento e a vitalidade do ator José Dumont num papel duplo: o cordelista Deraldo e seu sósia, o operário Severino. Os caminhos deles se cruzam quando Severino mata o patrão e Deraldo é perseguido em seu lugar. Entre as qualidades do personagem, o pobre Deraldo não faz o papel de vítima em tempo integral como passe garantido para o paraíso. Reagindo à exploração com um petulante “na minha concepção...”, ele se caracteriza pelo permanente estado de revolta. Seu contraponto, o inicialmente conformista Severino, sofre uma grande transformação ao se decepcionar com a ilusão de êxito através da humildade servil.



Não é um filme isento de problemas de roteiro e caracterização, o que costuma afetar o trabalho de Andrade na ficção. Mas o balanço nunca fechou tão favorável como aqui. O Homem que Virou Suco leva a bom termo várias vertentes do trabalho do diretor: o arrojo de performance do cinema marginal, a crueza de estilo herdada dos documentários e a convicção do cinema político. Duas cenas, pelo menos, merecem figurar numa antologia do cinema social brasileiro: a batida policial iluminada por lanternas e a comovente leitura de uma carta no barracão dos operários.



A exibição do filme restaurado se dará no cinema Palácio 1, no dia 29 de setembro (sexta-feira), às 18 horas. Na manhã do dia 30, às 10h30, haverá uma mesa redonda com a presença de João Batista de Andrade, na Tenda Odeon-BR. Na seqüência, haverá o lançamento do livro Memória da Memória – Uma História do Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro.





# O HOMEM QUE VIROU SUCO

Brasil, 1980

Direção:
JOÃO BATISTA DE ANDRADE

Elenco: JOSÉ DUMONT, CÉLIA MARACAJÁ, DENOY DE OLIVEIRA

Duração: 90 minutos

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