Há dois filmes distintos em As Torres Gêmeas: um é sobre dois policiais soterrados nos escombros do World Trade Center, tentando sobreviver à espera de resgate; o outro é sobre o drama das famílias, aflitas enquanto aguardam notícias do paradeiro deles.
O primeiro permite que Oliver Stone desenvolva sua habitual competência técnica. Como os dois protagonistas passam o filme inteiro imóveis, no escuro, praticamente só mexendo olhos e boca, ele consegue captar a atmosfera sufocante. O segundo é um equívoco completo. As atrizes que interpretam as mulheres dos policiais jamais encontram o tom certo, aparentando de início até uma certa frieza, impensável em tal situação. Como pode alguém, desesperado por alguma notícia do marido, ir à farmácia e esquecer o celular em casa? Muitos diálogos e situações são constrangedores, como o amigo de Allison perguntando se ela anda malhando, quando eles correm a caminho do hospital.
Mas nada supera o personagem caricato do ex-marine que, como se fosse um emissário de Deus, evoca o patriotismo ianque para se arriscar sozinho no resgate das vítimas. Oliver Stone costuma dizer que todos os seus filmes, não apenas o autobiográfico Platoon, são influenciados, de uma maneira ou de outra, por sua experiência como marine no Vietnã. Em As Torres Gêmeas, o fantasma vietnamita volta a assombrar o diretor, mas da pior maneira possível. E ele – logo ele que adora uma polêmica - desperdiça uma ótima oportunidade de refletir sobre o episódio mundial mais importante das últimas décadas, deixando a impressão de que o drama vivido pelos dois policiais poderia se passar em qualquer prédio que desabasse nos EUA.
# AS TORRES GÊMEAS (WORLD TRADE CENTER)
EUA, 2006
Direção: OLIVER STONE
Elenco: NICOLAS CAGE, MICHAEL PEÑA, MARIA BELLO, MAGGIE GYLLENHAAL
Duração: 125 minutos
