Críticas


ESTRELAS DE CINEMA NUNCA MORREM

De: PAUL McGUIGAN
Com: ANNETTE BENING, JAMIE BELL, JULIE WALTERS, VANESSA REDGRAVE.
26.04.2018
Por Luiz Fernando Gallego
Annette Bening e Jamie Bell evitam o dramalhão e mantêm a dignidade numa história de amor terminal.

Embora tenha recebido um Oscar de coadjuvante pelo clássico de Vincente Minelli que voltou a câmera para os bastidores de Hollywood, Assim Estava Escrito (1952), e tenha participado de alguns dos mais marcantes exemplares do cinema noir americano (especialmente da obra-prima de Fritz Lang em sua fase americana, Os Corruptos, de 1953), a atriz Gloria Grahame logo viu sua carreira ir se eclipsando ao longo da mesma década em que conheceu seu breve período de fama.

Alguns escândalos em sua vida pessoal colaboraram para a decadência a que se viu relegada em filmes inexpressivos: o casamento com Tony Ray, filho do cineasta Nicholas Ray (com quem ela havia sido casada oito anos antes), ele com 22 e ela com 37 anos, reacenderam os rumores de que eles já se relacionavam quando Gloria ainda era mulher de Nick Ray e Tony não passava de um adolescente. Tanto o Oscar como estes escândalos são rapidamente mencionados no filme Estrelas de cinema nunca morrem, baseado em livro do ator Peter Turner, com quem Gloria manteve relacionamento nos dois últimos anos de sua vida, entre 1979 e 1981, a despeito da diferença de quase trinta anos de idade: quando morreu, ela tinha 57 anos e ele, 29. Mas o foco do filme não está no passado de Gloria, e sim, neste período em que a atriz tentava manter a carreira nos palcos enquanto nas telas raramente conseguia estar em filmes pelo menos razoáveis.

Independente do que terá sido esta relação de fato, o roteiro (de Matt Greenhalgh) e a direção (de Paul McGuigan, mais frequente em telefilmes) não evitam tiradas fortemente melodramáticas que só não degeneram em mau dramalhão graças aos atores: a sempre excelente Annette Bening e Jamie Bell - que tem aqui sua melhor oportunidade desde que estreou em Billy Elliot há 18 anos. Eles conseguem transmitir um apaixonamento verdadeiro entre seus personagens nas diversas fases de uma relação mais ou menos tumultuosa, não fosse a personagem feminina central a atriz dona de uma biografia escandalosa anterior a este período.

Mesmo antes de interpretar Gloria Grahame entre os 55 e 57 anos, Annette Bening já guardava semelhança facial bastante curiosa com Gloria, especialmente em Os Corruptos (The Big Heat). Verifiquem. Aos 59, Bening não teme as rugas e a decadência física de sua personagem adoentada em mais uma interpretação notável.

Além de um Jamie Bell comovente, em uma única cena Vanessa Redgrave marca sua presença e a ótima Julie Walters trabalha de novo com o ator, como havia acontecido em Billy Elliot; antes, sua professora, agora como sua mãe.

Apesar da proximidade com o dramalhão, o filme consegue manter a dignidade ao expor a história tristíssima de um relacionamento amoroso terminal. O filme teve indicações a prêmios BAFTA para melhor atriz, melhor ator e melhor roteiro adaptado, mas também merece destaque a fotografia de Urszula Pontikos.

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Outros comentários
    4767
  • Iuki
    26.04.2018 às 14:17

    Julie Walters fez o papel de mãe ou professora de Billy Elliot???
    • 4768
    • Luiz Fernando Gallego
      26.04.2018 às 16:08

      Em Billy Elliot Julie Walters fez a professora de dança. Agora ela faz o papel de mãe. Obrigado pela correcção. Já corrigi na resenha.