Críticas


DÁLIA NEGRA

De: BRIAN DE PALMA
Com: JOSH HARTNETT, SCARLETT JOHANSSON, AARON ECKHART, HILARY SWANK
06.10.2006
Por Luiz Fernando Gallego
NOIR À BEIRA DO BIZARRO

As convenções do filme noir são quase tão particulares como as das óperas do século XIX: se o público não está acostumado com os códigos ou não aceita tão particular suspensão de descrença para as premissas do gênero, o que se vê pode acabar parecendo apenas exagerado e bizarro. Dália Negra exacerba as convenções do gênero a ponto de quase parecer uma caricatura do estilo, diferentemente de um Corpos Ardentes (de Lawrence Kasdan, 1981) que mimetizava os filmes dos anos 1940 com um sensual aggiornamento.



É claro que a escrita cinematográfica virtuosística de Brian De Palma está lá, como se faz presente em quase todos os seus filmes, bem ou mal sucedidos, mesmo que desta vez sem tantos ou exacerbados planos-seqüência que usou e abusou prazerosamente em seus últimos filmes. Mas os cuidados da produção estão lá para serem bem aproveitados: a fotografia, por exemplo, tem predominantes tons de sépia, mas com iluminação especialmente platinada para Scarlett Johansson se destacar no centro da imagem; a música é competente, mas insistente (destaque-se a interpretação sáfica de k.d.lang para Love for Sale); a cenografia dá o clima exigido. O ator que faz o personagem principal masculino, Josh Hartnett, tenta uma reencarnação de Glenn Ford mas fica quase sempre apenas com cara de bebê chorão ou mesmo sem expressão alguma que não chega a uma competente poker face; Scarlett enfeita numa até razoável recriação de Lana Turner; Aaron Eckhart conquista com seu tipo habitual de cafajeste simpático, enquanto Hilary Swank se esforça para deixar de ser menino que não chora ou menina de ouro sem glamour, mas não convence tanto como bela irresistível chegada a uma perversãozinha. No final das contas, quem brilha são duas coadjuvantes: Fiona Shaw, com uma personagem que anda na corda bamba do ridículo, volta a roubar cenas nas duas únicas em que aparece, tal como fizera em Nó na Garganta/The Butcher Boy, de Neil Jordan; e Mia Kirshner está linda e comovente.



No mais, a trama fica tão difícil de acompanhar como no clássico À Beira do Abismo, com Bogart e Bacall. Como em outros filmes de De Palma, fica uma impressão de grand-guinol, já que tudo é levado ao paroxismo. Mas grand-guignol nem sempre é a melhor opção para um filme noir que se pretendeu também "classudo". Quando De Palma filma histórias descabeladas como Femme Fatale e Olhos de Serpente (dois divertimentos da melhor extração que foram menosprezados), a coisa vai bem melhor se o espectador joga o jogo. Quando ele leva as coisas um pouco mais a sério, o exagero chega mesmo a parecer involuntário pastiche em vez de recriação pós-modernosa.





# DÁLIA NEGRA (THE BLACK DAHLIA)

EUA/Alemanha, 2006

Direção:
BRIAN DE PALMA

Elenco: JOSH HARTNETT, SCARLETT JOHANSSON, AARON ECKHART, HILARY SWANK, MIA KIRSHNER, FIONA SHAW

Duração: 121 minutos

Site oficial: clique aqui

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