Críticas


DIABO VESTE PRADA, O

De: DAVID FRANKEL
Com: MERYL STREEP, ANNE HATHAWAY, STANLEY TUCCI
06.10.2006
Por Luiz Fernando Gallego
SAUDADES DE AUDREY

Jovem que não liga para moda vai trabalhar numa revista do gênero e deixa de se vestir como Gata Borralheira, fazendo sucesso em Paris. Não, não é Funny Face, musical histórico que Stanley Donen filmou há 50 anos atrás, e que foi batizado justamente como Cinderela em Paris por aqui. Pior de tudo: Anne Hathaway não é Audrey Hepburn, na época em vertiginosa ascensão e maravilhosamente fotografada por Richard Avedon, dançando com Fred Astaire ao som de músicas de Gershwin.



Nem a personagem de Hathaway se destaca como modelo neste O Diabo veste Prada, mas sim como secretária-executiva que coloca a carreira à frente de amigos, namorado e de seus ideais abandonados e que visavam áreas mais "sérias" da cultura. Tudo é abandonado por ter vendido a alma à mefistofélica ´Miranda´, diretora-tirana de uma publicação fashion. Mas quem não se renderia, por submissão ou fascinação, a Meryl Streep, divertindo-se em papel-clichê que ela faz com dois pés nas costas?



O elenco ainda reserva outras boas participações, como as de Stanley Tucci numa espécie de fada-padrinho a contragosto e principalmente, Emily Blunt - que veio de boas participações em papéis psicopáticos (seja no bom My Summer of Love ou no ruim Irresistible) e agora se mostra competente em papéis mais leves com os mesmos olhos verdes de chamar a atenção. Já Adrian Garnies não é mesmo namorado a quem mocinha bonita se apegue tanto, ainda mais depois de um noite em Paris com Simon Baker. Mas isto faz parte daquele ranço moralista de Hollywood quando quer convencer a platéia de tudo o que não se faz por lá no "american way of life" em busca do sucesso a qualquer preço.



Embora a historieta do antigo "Cinderela em Paris" fose cretina, com gozações bobocas ao existencialismo francês e aos projetos intelectuais da personagem de Audrey, não havia hipocrisia: quando ela se decidia pelo mundo da moda, ela arrebentava mesmo e cantava "Funny Face" feliz da vida. Neste, nem mesmo a diaba que veste Prada (Miranda/Meryl Streep) é tão feia quanto se pinta, tendo até um pequeno gesto generoso no final. E Meryl só está "feia" de "caráter" (blearghh), mas permanece como uma coroa e tanto, bonitaça e caprichada (e na cultura do espetáculo, da imagem e da aparência quem quer lá saber de beleza interior? - como diz alguém no filme - para, entretanto, a "mensagem" moralista pontificar no final feliz e bem comportado). Anne Hathaway precisa urgentemente voltar a papéis como o que teve (e esteve bem) em Brokeback Mountain e desistir de tentar se estereotipar em filmes como Diário da Princesa ou este. Audrey não deixou mesmo substitutas à altura, pelo menos, até agora.



E nem mesmo quem gostar de moda terá chances de ver direito os vestidos de um desfile. O ritmo mais lento dos filmes antigos pelo menos permitia que se admirasse Audrey vestida de Givenchy em imagens antológicas. Aqui, um desfile passa rápido em edição de videoclipe. Por outro lado, o filme não tem ritmo nenhum e se fosse reduzido em meia hora seria menos intolerável. E se se comparar até mesmo a um Altman menor como Prêt-à-Porter sobre o mundo fashion, aí mesmo é que não dá nem para a saída...



# O DIABO VESTE PRADA (THE DEVIL WEARS PRADA)

EUA, 2006

Direção: DAVID FRANKEL

Elenco: MERYL STREEP, ANNE HATHAWAY, STANLEY TUCCI

Duração: 111 minutos

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