Nos seus primeiros quinze ou vinte minutos Canastra Suja parece que vai retratar com acuidade os dramas de uma família suburbana de baixa classe média. Para isso conta com ótimos atores, alguns já consagrados, como Adriana Esteves e Marco Ricca, outros com carreira predominantemente televisiva que mantêm a homogeneidade do elenco em alto nível, como Bianca Bin, David Junior e, principalmente, Pedro Nercessian. Mas, infelizmente, aos poucos, os personagens vão revelando grosseiras facetas que lembram excessos nelsonrodigueanos e que transformam o filme numa caricatura das peças do autor teatral, lembrando, por exemplo, "Os Sete Gatinhos" - que também foi levada ao cinema. Se as peças de Nelson correm no fio da navalha do exagero, escapam do esquematismo pelas qualidades teatrais (que nem sempre se adaptam bem ao realismo cinematográfico). Mas em Canastra Suja, a qualidade dos intérpretes, da ambientação e da fotografia não são suficientes para redimir a "mão pesada" de um enredo que transforma o "beco sem saída" social e existencial dos personagens em caminho aberto para um somatório de vilezas.
Lamentavelmente, não há como argumentar sobre o grotesco em que o filme vai se transformando sem mencionar que virgindade, prostituição, adultério, violência familiar, alcoolismo - e até mesmo personagem com deficiência intelectual - estão nas “cartas” que o roteiro usa e abusa para compor essa “canastra suja”. Aliás, a associação dos personagens com cartas de baralho soa gratuita, nada mais do que um recurso visual estilosinho e que pode redundar numa metáfora de mau gosto na conclusão da trama.
E o que são as imagens dos créditos finais em que vemos fotos das filmagens com os atores e equipe sorridentes depois de tantas grosserias sórdidas acumuladas como que para turbinar sua dramaturgia torpe e canhestra?