Críticas


CACHORROS

De: MARCELA SAID
Com: ANTONIA ZEGERS, ALFREDO CASTRO, RAFAEL SPREGELBURD
06.07.2018
Por Luiz Fernando Gallego
O filme se mostra tão errático quanto sua personagem principal.

Lançado no Rio na mesma semana em que torturadores e assassinos de Victor Jarra foram condenados no Chile (e em que a Corte Internacional de Direitos Humanos condenou o Brasil por não punir os torturadores e assassinos de Vladimir Herzog), o filme Cachorros, da diretora chilena Marcela Said, aborda casos tardios de impunidade nos meios militares de seu país.

O roteiro escolhe como personagem-guia a quarentona Mariana, filha de militar, casada com um argentino que tem militares na família (punidos em seu país), que faz tratamento para engravidar e que volta e meia é falada como frequentadora de shoppings. Privilegiada socio-economicamente, Mariana vai fazer aulas de equitação com Juan, um antigo coronel do regime de Pinochet, mostrando-se insistentemente curiosa sobre que tipo de processo ele está sofrendo.

Um capricho de mulher mimada? Porque Mariana é uma personagem que parece irresponsável em suas atitudes ao resolver interromper o tratamento para gravidez, assim como ao assumir uma atitude passível de ser tomada como sedutora junto ao detetive que investiga Juan. Na primeira cena do filme percebe-se que foi ignorada pelo pai em um negócio de família, em outro momento o enfrenta, mas raramente vai ser coerente com esta atitude. Aliás, em todas as suas atitudes.

No final das contas, a personagem surge bem pouco simpática para o espectador e suas condutas seguem em zigue-zague, sugerindo que a diretora (e autora do roteiro) pode ter desejado falar sobre as pessoas de seus país que querem ignorar os horrores da era Pinochet e apenas ter uma curiosidade inconsequente sobre tais desmandos quando uma oportunidade lhes surja por mero acaso.

A atriz Antonia Zegers ostenta quase sempre um sorriso que talvez pretenda parecer irônico, mas que acaba resultando num estereótipo vazio de significado mais preciso. O possível implicado em crimes contra Direitos Humanos é interpretado pelo excelente Alfredo Castro - e o ator é capaz de despertar mais empatia do que a atriz e a personagem feminina!

Acaba que o filme se mostra tão errático quanto a personagem - para não entrarmos no campo das metáforas caninas que lhe dão título...

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