Gianni Amelio, o melhor remanescente do clássico cinema social italiano, dá um passo em falso com este La Stella che non c´è (a tradução correta seria “A Estrela que Falta”, em vez dessa tolice pespegada pelo festival). Curiosamente, a interpretação “neutra” que consagrou Sergio Castellitto, desta vez, só contribui para esvaziar ainda mais a história desse mecânico industrial italiano que viaja à China numa estranha missão pessoal. Ele quer entregar a versão modificada de uma peça de um forno siderúrgico vendido aos chineses, mas perde o rumo no meio do caminho. Desde cedo, porém, percebemos que esse trabalho de Sísifo tem um sentido metafórico. Difícil é deslindar qual seja.
Junto com uma jovem intérprete chinesa, Vincenzo Buonavontá (Castellitto) embarca numa viagem pela China profunda, o que dá margem a uma abordagem semidocumental do país. Siderúrgicas gigantescas em paisagens apocalípticas, arranha-céus apinhados de gente pobre, crianças abandonadas, cidades barulhentas e poluídas – o panorama da Nova China protocapitalista não poderia ser mais cinzento. Nem mais artificial ou desmotivado. O fato é que o modelo de road-movie humanista de Amelio, tão feliz em Ladrões de Crianças e As Chaves de Casa, não funcionou em terras chinesas.
O filme é opaco até onde a vista possa alcançar. Vincenzo é um personagem subconstruído, sem abertura para o interesse do espectador. Nada justifica a perplexidade permanente, diria mesmo a idiotia, de um homem que se aventura por um país desconhecido sem um celular ou um mapa inteligível, nem sequer a disposição para tentar se comunicar num arremedo de inglês. Somos convidados a nos relacionar com esse vácuo humano, enquanto sua relação com a moça parece evoluir de nada para coisa nenhuma.
Alguma coisa de grave se perdeu entre o romance La Dismissione (“A Demissão”), do napolitano Ermanno Rea, e o filme de Amelio. Uma reflexão potencial sobre a condição operária na era da globalização gerou apenas um filme muito bem fotografado. Algo assim como uma bela máquina a que falta a peça principal, a sua estrela.
# A ESTRELA QUE NÃO É (LA STELLA CHE NON C´È)
Itália/França/Suíça/Cingapura, 2006
Direção: GIANNI AMELIO
Elenco: SERGIO CASTELLITTO, LING TAI
Duração: 103 minutos