Em uma cena lá pelo meio de Só Deus Sabe a personagem da mãe de Dolores (Alice Braga) diz que o romance dela com Damién (Diego Luna) "parece novela mexicana". O que sugeria uma crítica ao dramalhão a ser evitado pelo filme se perde pouco depois quando o enredo dá mais uma virada, agora no terreno do melodrama.
Antes já parecera um road movie pelo México, levantando suspeitas (infundadas) de algo perigoso e de suspense no personagem de Diego Luna, transformando-se, ao chegar ao Brasil, numa demonstração de ritos e crenças do candomblé num samba do mexicano doido e estabelecendo novo sincretismo entre a Virgem de Guadalupe e Oxum. A trilha sonora é coerente com essa mistura, além de excessiva e onipresente: mistura eletro-axé e cantos rituais com "Estrada do Sol" em bela gravação antiga de Sylvinha Telles.
As intenções finais do filme, com total simpatia por aspectos místicos, tornariam dispensável ser tão longa a parte mexicana inicial, revelando um roteiro pouco enxuto que a câmera ágil disfarça até certo ponto mas não sustenta. Assim como a cativante Alice Braga confirmando a presença forte que já exibira em Cidade Baixa, mas sofrendo o diabo no filme - apesar de toda a proteção de entidades do Bem.
# SÓ DEUS SABE (SOLO DIÓS SABE)
México/Brasil, 2005
Direção: CARLOS BOLADO
Roteiro: DIANE WEIPERT, CARLOS BOLADO
Elenco: ALICE BRAGA, DIEGO LUNA
Duração: 113 minutos