Críticas


BENZINHO

De: GUSTAVO PIZZI
Com: KARINE TELES, OTAVIO MÜLLER, ADRIANA ESTEVES
24.08.2018
Por Luiz Fernando Gallego
Veículo para Karine Teles, apostando no naturalismo: família classe média em crise econômica, porém unida e feliz.

Mais uma vez o diretor Gustavo Pizzi constrói um veículo para sua (então) esposa,a atriz Karine Teles, apostando no naturalismo fofo, provavelmente para conseguir a identificação do espectador com uma família classe média em crise econômica, porém unida e feliz. O único gancho a mover o enredo é a partida do filho mais velho da personagem de Karine para ser jogador de handebol na Alemanha. Com o país em crise, emigrar parece ser uma boa oportunidade, embora a mãe vá sofrer bastante: nem tão lá no fundo ela preferiria que seu filho ficasse. Há outro de 12 anos, tocador de tuba (um suposto atrativo para algo inabitual e levemente cômico) além de dois gêmeos grudados nela, filhos de fato da atriz.

Ainda gravita em torno da personagem (ou da atriz?) um marido sonhador (Otávio Müller) que vê sua livraria/papelaria em vias de fechar (“Ninguém mais compra livro”), caracterizando talvez a pobreza cultural que nos assola há décadas. Ou a ameaça dos livros vendidos pela internet em detrimento das livrarias físicas. Vender uma “casa de praia” supervalorizada afetivamente (em Araruama - ou poderia ser em Maricá?), mas que pode nem estar valendo tanto? Alugar um galpão em ruínas contando com obras governamentais que reativariam um suposto ponto turístico? Concluir as obras de uma casa nova eternamente em construção no terreno da casa onde moram e que está caindo aos pedaços? O marido tenta estas saídas mais ou menos utópicas, enquanto a mulher, por conservadorismo ou realismo, não consegue apoiá-lo com entusiasmo.

Para completar, a irmã de ‘Irene’ (personagem de Karine) apanha do marido e vai se refugiar com o filho de seus dez anos na mesma casa. Um luxo ter Adriana Esteves como coadjuvante neste papel, atriz com mais recursos e mais sutileza do que a própria Karine, tão boa quanto um tanto superestimada - aliás, como o filme no todo, a despeito do capricho na produção, habilidade na direção e edição. Um elemento que se destaca em meio a tamanha vidinha “classe média como ela é” é a fotografia de Pedro Faerstein que frequentemente enfatiza as cores em tomadas noturnas ou mais sombrias. Há capricho em enquadramentos como na cena da praia ou na entrada do galpão em ruínas que o marido gostaria de alugar, por vezes enfatizando o realismo (praia), outras vezes exibindo um preciosismo na narrativa visual que funciona mais como enfeite (entrada no galpão).

A saída para o cinema brasileiro chegar ao público estaria no recurso ao naturalismo, ainda que bastante melhorado em relação ao estilo das novelas Globo? Pode ser que sim, mas ainda questiono se o público médio que frequenta salas de cinema e se encanta com os enredos ficcionais dos filmes argentinos (melhores ou piores) não preferiria um pouco mais de dramaturgia do que a tentativa de transportar a realidade “em um por um” como acaba sendo o viés naturalista que os responsáveis pelo filme preferiram.

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