Estreia do diretor Aneesh Chaganty em longa-metragem, Buscando... tem um ótimo enredo de mistério e uma narrativa visual curiosa: tudo é visto como se fosse na tela de um computador. No início pode causar alguma estranheza e até mesmo má vontade: será um gadget supérfluo? Mas na medida em que o roteiro vai sendo (bem) desenvolvido, a atenção do espectador fica tomada pelo que se passa - e como se passa a história da mocinha de 16 anos desaparecida. Para desespero do pai, viúvo há dois anos.
Na geração acostumada a usar a internet para tudo e mais alguma coisa, o filme deve soar bastante natural; embora possa (talvez) não parecer tão sintônico com os que não têm tanta familiaridade com os recursos das plataformas, do Windows ao Facebook passando por Instagram e outros tantos. Mas o suspense do whodunnit? compensa bastante.
Tudo que se espera de uma ficção de mistério é ser bem enganado, ou seja, não descobrir facilmente o enigma, não ficar irritado com as pistas que se revelem falsas e poder ter surpresas enquanto o mistério vai sendo desvelado (ou mais encoberto). Nestes aspectos o filme é um raro oásis em meio a tantas tentativas de originalidade forçada com enredos tão mirabolantes que não conseguem dar conta satisfatoriamente de um esclarecimento minimamente verossímil no desfecho. E por mais que as soluções sejam improváveis, cabe à narrativa torna-las plausíveis.
Um senão significativo é o uso de trilha musical que deveria ser menos insistente, ou mesmo nem existir – para ser coerente com a opção visual da plataforma onde a história é narrada. Este aspecto, de certo modo, torna fake o recurso da tela do computador.
No final das contas, pode-se dizer que o uso da tela de computador é uma nova forma de McGuffin, ou melhor dizendo, um McGuffin formal: importa tanto quanto não importa para a narrativa de um bom filme de mistério.
E que, apesar de se passar na tela do computador, fica muito bem na telona de salas de cinema. Espera-se que não vire moda para atender quem vê filmes em telinhas de celular ou de computadores.