Críticas


NASCIDOS EM BORDÉIS

De: ZANA BRISKI e ROSS KAUFFMAN
07.10.2006
Por Carlos Alberto Mattos
A ARTE SALVA

A idéia de salvação pela arte – que anima, por exemplo, o trabalho do AfroReggae nas favelas cariocas – tem uma ilustração eloqüente em Nascidos em Bordéis. Vencedor de um Oscar e do Prêmio do Público no Festival de Sundance em 2005, já lançado em DVD no Brasil, o documentário encontra uma forma hábil, mas não exploratória, de revelar os intestinos de um dos lugares mais dantescos do planeta. A zona de prostituição de Calcutá é um inferno inacessível às câmeras. Para ali penetrar, as norte-americanas Zana Briski e Ross Kauffman pediram às crianças que fotografassem o seu bairro. Mas o filme acabou sendo bem mais que o registro desse processo.



Nascidos em Bordéis é um documentário de intervenção social. Através da oficina de fotografia, uma saída se apresentava para as crianças mais talentosas. A salvação, portanto, estava limitada pela necessidade de selecionar. E ainda pela incompreensão dos pais e os absurdos da burocracia indiana. Quando se detém sobre as dificuldades do projeto, o filme traz para o primeiro plano a persistência da fotógrafa Zana Briski e perde um pouco de sua força. Melhor é quando cumpre sua agenda principal: deixar-se guiar pelas crianças, ali onde a inocência se mescla à sordidez, num ciclo contínuo de gerações dedicadas à prostituição.



As dignas intenções das realizadoras e a forma de aproximação escolhida garantem um certo pudor nesse olhar. Não vemos o trabalho das/dos profissionais do sexo. Mas temos cenas, relatos e indícios de um mundo marcado pela extrema pobreza e o conformismo, algumas das piores aflições da Índia tradicional. A beleza recolhida nas fotos das crianças é um alento que o documentário promove de maneira afetuosa e sem sentimentalismo.





Texto originalmente publicado em O Globo





# NASCIDOS EM BORDÉIS (BORN INTO BROTHELS: CALCUTTA´S RED LIGHT KIDS)

Índia/EUA, 2004

Direção, roteiro e fotografia:
ZANA BRISKI, ROSS KAUFFMAN

Edição: NANCY BAKER, ROSS KAUFFMAN

Música: JOHN McDOWELL

Duração: 85 minutos

Site oficial: clique aqui

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