Críticas


O QUEBRA-CABEÇA

De: MARC TUTLETAUB
Com: KELLY MACDONALD, IRRFAN KHAN, DAVID DENMAN
15.11.2018
Por Maria Caú
O talento de Kelly MacDonald faz do talento da personagem para montar quebra-cabeças um indício alegórico de retomada das rédeas da própria vida.

A atriz escocesa Kelly MacDonald, cuja carreira cinematográfica teve início no brilhante queridinho cult Transpotting, poucas vezes teve papéis de grande destaque no cinema, à exceção do seu excelente trabalho de voz na animação da Disney Valente. Em O quebra-cabeça, ela finalmente encontra na protagonista, Agnes, uma plataforma para exibir suas amplas qualidades dramáticas, e o filme se apoia em sua ótima atuação, que dá à trama bastante simples e talvez pouco ancorada no realismo a que se pretende um senso de densidade capaz de despertar afetos.

O filme narra a vida de uma dona de casa que, a partir de um presente de aniversário, percebe seu talento incomum para montar quebra-cabeças, o que a leva numa jornada de auto-descobrimento que a conecta ao milionário solitário Robert (Irrfan Khané). O roteiro é baseado no filme argentino Rompecabezas, de Natalia Smirnoff, e talvez por isso alguns elementos pareçam um pouco estrangeiros, como o catolicismo arraigado de Agnes e sua recusa em utilizar a tecnologia. Em realidade, a sensação é a de que Agnes é muito mais velha do que os seus 40 e poucos anos e que vive muito mais isolada do que faria sentido para alguém que está a apenas uma pequena viagem de trem de Nova York. No entanto, o talento de MacDonald faz com que esqueçamos essas inconsistências e embarquemos na trajetória de Agnes, com destaque para as muitas sequências de montagem de quebra-cabeças, filmadas com delicadeza ímpar, com esses objetos surgindo como indícios alegóricos da retomada por parte de Agnes das rédeas da própria vida.

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