Baseado numa minissérie britânica de 1985, o quarto longa-metragem do também britânico Steve McQueen teve seu enredo transplantado para os EUA com amplos cuidados de produção e elenco, confirmando a competência do realizador de Hunger e Shame - que não lançava um longa desde o premiado 12 Anos de Escravidão (2013).
Apesar das qualidades artesanais, o enredo um tanto rocambolesco, pontuado de algumas surpresinhas e sub-enredos menos desenvolvidos ou pouco verossímeis, deixa a desejar para quem esperava algo mais de acordo com os filmes anteriores de McQueen. Ele repete tanto o mesmo diretor de fotografia de seus outros filmes, o ótimo Sean Bobbitt, que faz mais um ótimo trabalho de cores e luzes, como o montador Joe Walker, eficiente na edição das cenas que intercalam ações paralelas e flashbacks eventuais.
Mais do que a história das três viúvas do título, mulheres de bandidos que se veem forçadas a cumprir com “obrigações” deixadas por seus parceiros, o que pode interessar mais é o pano de fundo em que se passa a trama central sobre as moças: na Chicago de hoje, políticos, bandidos e líder religioso não passam de corruptos da mesma laia, mudando – apenas um pouco – seus métodos de ação. Nada que, por outro lado, não conheçamos na nossa atualidade abaixo do Equador.
O elenco é outro destaque, embora da maior parte dos intérpretes não seja exigida muito além de suas habilidades já amplamente conhecidas. Viola Davis, por exemplo, nem tem muito o que fazer, quase que aprisionada num tipo de “durona”. E embora alguns aspectos do passado familiar da personagem sejam mostrados em flashback, a informação de que era líder sindical (sindicato de professores) não é explorada nem relacionada ao seu estranho casamento com um homem tão dedicado ao crime. Já a personagem de Elizabeth Debicki traz um pouco mais de oportunidades que a atriz aproveita bem, ainda que seja através dela que surjam concessões de um certo humor - um tanto deslocado do clima criminal que domina o filme. O aspecto paralelo de um caso seu com um homem interpretado por Lukas Haas surge como coincidência demasiadamente favorável para a trama, sendo em seguida deixdo de lado. Michelle Rodriguez não tem muito o que fazer num tipo mais apagado. Três etnias foram contempladas, uma afro-americana, uma latina e uma branquela descendente de poloneses. Bastante complicado este empoderamento feminino em atividades criminosas.
No elenco masculino, Robert Duvall é o grande ator de sempre numa pequena participação e Colin Farrell está adequado ao seu papel. Por outro lado, os negros Daniel Kaluuya (que esteve excelente em Corra!) assim como Brian Tyree Henry ficam limitados pelos personagens estereotipados.
No final das contas, o filme se deixa assistir embora desperte mais interesse nas premissas iniciais, ficando pouco além do aproveitamento de um diretor habilidoso para uma história de desenvolvimento rotineiro e que busca escapar da rotina com as já mencionadas reviravoltas e surpresas muito pouco convincentes dentro da pegada realista pretendida.