Críticas


A NOSSA ESPERA

De: GUILLAUME SENEZ
Com: ROMAIN DURIS, LAETITIA DOSCH, LAURE CALAMY, DOMINIQUE VALADIÉ
02.01.2019
Por Luiz Fernando Gallego
Os destaques são os desempenhos excelentes e um retrato convincente de relações trabalhistas na França.

A Nossa Espera é o segundo filme do diretor belga Guillaume Senez e tem como principais trunfos: 1) o desempenho do ator (nem sempre simpático, mas muito competente) Romain Duris, em uma de suas melhores participações, ao lado de duas crianças que são surpreendentemente naturais em seus desempenhos; 2) o pano de fundo de situações trabalhistas na França e o desgaste do trabalho extra de líderes sindicais, mostrado sem proselitismo.

Entretanto, o foco maior do enredo cai na situação do personagem interpretado por Duris que tem que lidar com as obrigações familiares e as de seu emprego a partir do súbito abandono por parte de sua mulher. O espectador vai ter que driblar a inclinação por um julgamento moral sobre a atitude pouco explicada desta personagem feminina.

O roteiro do diretor e da sua co-roteirista Raphaëlle Desplechin parece ter deixado as motivações da mãe intencionalmente obscuras, o que não impede de poder se considerar esta opção como uma lacuna insatisfatória - mas o foco pretendido é mesmo na situação da paternidade sobrecarregada do personagem masculino. Sem ajuda de outras mulheres, como sua própria mãe e – ainda que brevemente – sua irmã (Laetitia Dosch, excelente), não sabemos como ficaria a vida desta família fraturada. As reações das crianças podem soar muito amadurecidas para quem viu a mãe ir embora de um dia para outro. Uma melhor compreensão do drama da personagem de um ponto de vista feminista poderia contrabalançar a comoção que fica sobre o destino das crianças.

Apesar destas questões, cabe ressaltar que o filme mantém a atenção do espectador graças a uma direção competente de atores (parece que o diretor não lhes dá um roteiro pronto, mas deixa os intérpretes desenvolverem a situação de cada cena) e a um elenco capaz de despertar a empatia do público - não só quanto aos desempenhos antes mencionados. As subtramas das questões dos empregados na fábrica em que o personagem vivido por Duris trabalha também colaboram para diversificar e manter a atenção da plateia.

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