Críticas


ÚLTIMA NOITE, A

De: ROBERT ALTMAN
Com: GARRISON KEILLOR, MERYL STREEP, KEVIN KLINE, VIRGINIA MADSEN
02.11.2006
Por Marcelo Janot
A SERENIDADE DE ALTMAN PERANTE A MORTE

O título original, A Prairie Home Companion, é o mesmo de um dos shows de rádio mais famosos dos Estados Unidos, criado por Garrison Keillor em 1974, e que permanece no ar até hoje, transmitido do Fitzgerald Theater, em Minnesotta, e escutado semanalmente por 4 milhões de pessoas. No filme de Robert Altman, escrito e estrelado por Keillor, empresários que compraram a rádio decidem tirar o programa do ar, e o teatro será demolido, no dia seguinte à última transmissão, para virar um estacionamento.



Como fez com maestria em filmes como O Jogador, M.A.S.H. , Nashville e Prêt-à-Porter, Altman escolhe um universo específico para retratar, a partir das relações entre os vários personagens que o habitam. Mas não há, aqui, a acidez que caracterizou vários desses filmes. A Última Noite, mais do que um filme sobre os bastidores do rádio, é uma reflexão filosófica sobre como lidar com a proximidade do fim.



É o fim do programa, o fim do teatro, o fim de uma era. A morte está presente de diversas maneiras: nas lembranças do duo de cantoras irmãs formado por Lily Tomlin e Meryl Streep; nos poemas suicidas escritos pela filha de uma delas; no veterano cantor que tem um enfarte e bate as botas; no segurança e detetive Guy Noir, vivido por Kevin Kline, que nada mais é do que um personagem do programa, que se comporta como se estivesse no mundo da ficção; por fim, a morte materializada no anjo louro vestido de mulher fatal.



Aos 81 anos e enfrentando problemas de saúde, Robert Altman sabe que a sua hora de sair de cena pode estar chegando. A julgar pelo que vemos em A Última Noite, o cineasta lida com sabedoria com o tema. O tom pra cima do filme e o dinamismo da ação parecem dizer que continuamos querendo escapar da morte, mas devemos aceitá-la e conviver com ela de uma forma natural (mesmo que ela seja encarnada pela sedutora Virginia Madsen), sem melancolia, lamentações e despedidas.



Há pouca história e um excesso de números musicais (que podem desagradar a quem não é fã de country music), assim como no ótimo e incompreendido De Corpo e Alma, seu filme anterior, Altman retratava os bastidores de uma companhia de dança dizendo muito mais através dos suaves movimentos corporais do que das palavras.



Ele continua encontrando espaço no cinema americano para fazer filmes com essas características, desafiando todas as “leis de mercado”, assim como o programa de rádio criado por Keillor sobrevive à era da comunicação moderna. A Última Noite é, portanto, não o simples anúncio de uma morte que está próxima, mas um elogio à vida e à arte.



# A ÚLTIMA NOITE (PRAIRIE HOME COMPANION)

EUA, 2006

Direção: ROBERT ALTMAN

Roteiro: GARRISON KEILLOR

Fotografia: ED LACHMAN

Edição: JACOB CRAYCROFT

Elenco: GARRISON KEILLOR, MERYL STREEP, KEVIN KLINE, VIRGINIA MADSEN, LILY TOMLIN, LINDSAY LOHAN, TOMMY LEE JONES, WOODY HARRELSON, JOHN C. REILLY

Duração: 105 min.

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