O diretor Adam McKay segue alguns passos de seu ótimo filme anterior, A Grande Aposta (2015), com parte do mesmo elenco: Christian Bale e Steve Carell, sendo que Brad Pitt entrou apenas como co-produtor. A estes, vieram somar Amy Adams e Sam Rockwell, um quarteto mais do que eficiente, com destaque para o casal central Bale e Adams, já que Carell não tem muito o que fazer além de usar seus recursos habituais e Rockwell, um excelente ator que só recentemente vem recebendo os prêmios que merece, fica limitado à caracterização do limitado George W. Bush. Já Bale surge virtuosístico, seja para o personagem de Dick Cheney mais jovem ou quando já aparece bem maduro (aqui, com auxílio de maquiagem de primeira). Adams é mais sutil na composição de uma ambiciosa senhora Cheney. Mas a marca registrada do filme é mesmo a narrativa pop dada ao roteiro cheio de informações dispostas de modo semi-aleatório, mantendo a atenção do espectador apesar de nem sempre ser fácil acompanhar a vida pessoal aliada ao xadrez político do 46° Vice-presidente dos Estados Unidos. Foi com este estilo, mesclando humor e informações menos prosaicas, que McKay acertou em A Grande Aposta e acerta de novo em Vice. Para isto, certamente a edição do mesmo Hank Corwin do filme anterior colabora bastante, driblando os riscos de momentos que poderiam soar como de menor interesse, assim como a duração de pouco mais de duas horas de projeção.
O resultado é um convite à adesão do público que tende a ficar sintonizado com as revelações do poder paralelo (ou bem mais do que isto) que Cheney manteve durante o governo do patético Bush-II. Soluções de compromisso político hipócritas surgirão a partir do momento em que outro membro da família concorre a um cargo público por uma região muito conservadora dos EUA, tendo que aceitar a presença de um casamento gay na família, mas se posicionar contra casamentos que não sejam entre homens e mulheres, assunto que volta e meia reaparece em pauta também por aqui nestes dias de maré conservadora e retrógrada.
Vice é um filme que não menospreza a inteligência da plateia e que dá prazer de assistir por sua verve e habilidade em condensar tantas informações em tão pouco tempo. Cabe advertir que quando surgem os belos créditos finais, ao som de um famoso trecho musical de West Side Story, vale a pena esperar pela piada final, um epílogo autorreferente bastante divertido que dá um bom toque de encerramento ao filme.