Críticas


GUERRA FRIA

De: PAWEL PAWLIKOWSKI
Com: JOANNA KULIG, TOMASZ KOT, BORIS SZYC, AGATA KULESZA
07.02.2019
Por Luiz Fernando Gallego
Um dos destaques é o uso das músicas, muitas vezes em estilos bem diferentes.

Ainda que inspirado na vida dos pais do diretor Pawel Pawlikowski (do premiado “Ida”, de 2013), o roteiro de Guerra Fria passou por acréscimos ficcionais no que diz respeito à vida íntima e às personalidades do casal interpretado por Joanna Kulig e Tomasz Kot - que além de ótimos atores também têm os talentos musicais que os personagens demandam.

O diretor usa de novo expressiva fotografia em preto-e-branco de um dos seus cinegrafistas de “Ida”, Lukasz Zal, assim como repete o mesmo editor, Jaroslaw Kaminski, trocando os colaboradores do roteiro. E a despeito das qualidades que o filme apresenta, o enredo não tem a mesma integração que foi conseguida no filme anterior entre os destinos individuais e a situação política da época. Em “Ida”, nazismo, antissemitismo, comunismo e igreja católica moldavam fortemente a conduta da noviça, de sua tia e do rapaz músico. Aqui, por mais que a "guerra fria" no título atrapalhe enormemente a vida do casal Zula e Wiktor, muito dos percalços que eles sofrem são originados dos destemperos emocionais deles mesmos.

No início, até parece que a instituição religiosa que tanto marcava o destino da noviça estaria sendo trocada pela “religião” comunista - ou melhor, por sua institucionalização por parte do stalinismo. Mas a fixação de Wiktor em Zula, e até mesmo o abuso de álcool por parte dela, muitas vezes atrapalham a vida dos dois, independentemente de estarem do lado de lá da “cortina de ferro” da então URSS ou de estarem em Paris. Neste sentido, o título do filme acaba soando pretensioso e pode colaborar com um certo grau de frustração. Sem esta expectativa, é interessante, enxuto (menos de 90 minutos), apesar de algumas elipses perto do desfecho deixarem o espectador desejando saber um pouco mais do que teria acontecido aos personagens entre uma passagem de tempo e outra.

Um destaque na estrutura da narrativa é o uso das músicas, muitas vezes em estilos bem diferentes, assim como a filmagem e edição das cenas de danças folclóricas na parte inicial.

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Outros comentários
    4845
  • antonio soares
    11.02.2019 às 09:21

    Pondero se as questões emocionais da moça não são causadas ou influenciadas pela questão política da separação. Ou talvez por ela não querer viver à sonbra dele, como ela fala no momento em que explica porque não foi se enonctrar com ele na Alemanha Ocidental para fugirem. Disse ela que não tinha vontade de ir por ela própria, e sim por causa dele. Acho que o filme coloca a questão de forma complexa, e não como um simples impedir físico da relação dos 2. No mais, ótima sua crítica. Um abraço
    • 4846
    • Luiz Fernando Gallego
      11.02.2019 às 09:30

      Obrigado! Por outro lado, a hipótese de a moça "não querer viver à sombra dele" também (me parece) não seria tão ligada à questão política. Já se as atitudes dela (ou mesmo dele) podem ter sido influenciadas pela guerra fria... é uma hipótese, mas no decorrer do filme, com tantas elipses, fiquei com a impressão de que aparecem mais as neuras do casal do que os empecilhos de sair da (ou ter que ficar na) "cortina de ferro"... ou outros obstáculos políticos. Ficam abertas várias possibilidades, mas o início do filme acentua mais os obstáculos políticos do que a evolução da história. Abraço.