Críticas


VOX LUX: O PREÇO DA FAMA

De: BRADY COBERT
Com: NATALIE PORTMAN, JUDE LAW, RAFFEY CASSIDY, STACEY MARTIN
28.03.2019
Por Luiz Fernando Gallego
A ótima primeira metade do filme não se sustenta na segunda parte.

Além de atores, Jude Law e Natalie Portman são co-produtores de Vox Lux, título original, em latim, que o diretor e roteirista Brady Cobert diz significar “voz da luz”; mas para dizer isto em latim o certo seria “vox lucis”, portanto, o título quer dizer apenas “voz” e “luz” justapostas mesmo. Talvez faça sentido.

Law e Portman devem ter acreditado muito no projeto que tenta lidar com temas importantes, mas sem conseguir uma liga eficaz entre eles: existe a questão da banalização da violência - até para quem a sofreu barbaramente -, assim como existe a “cultura do espetáculo” (ou “da imagem”) que não permite mais que cantores apenas cantem: os shows atuais procuram ter inúmeros recursos visuais de luz, pirotécnicos, que hipnotizem a plateia enquanto o som de uma voz tenta ser a atração central. Mas a grande atração é mesmo a "imagem" do artista.

O enredo tem como personagem principal uma jovem adolescente, Celeste, que, depois de passar por uma situação-limite que teria causado comoção nacional, se vê catapultada para a fama após cantar uma comovente canção, acompanhada de sua irmã mais velha, numa cerimônia em memória dos desaparecidos. Pena que a cópia que vimos, e provavelmente todas em cartaz, não tenham legendas com a letra da música em português, péssimo hábito em filmes nos quais as letras das músicas são significativas para a trama da história.

Na primeira metade o filme promete muito, mostrando a chegada da jovenzinha, até então amadora, ao mundo dos empresários, assessores de imprensa, produtores musicais, arranjadores... – todos desejando criar um produto a ser consumido pelas massas e transformado em máquina de dinheiro. Não é a primeira vez que filmes, livros e peças abordam essa “roda viva”, como chamou, aqui no Brasil, o então jovem Chico Buarque logo que atingiu a fama. O diferencial seria o trágico acaso que abre o filme e que, para Celeste, teria sido – talvez – uma enorme sorte profissional.

Para articular sua fama posterior com a circunstância chocante que havia propiciado a transformação da adolescente em superstar no estilo Madonna ou Lady Gaga, a segunda parte do roteiro enfoca uma situação trágica parecida, em outro país que não os EUA, mas com uso de vestimentas francamente associadas ao videoclipe estilo MTV que havia sacramentado, anos antes, a imagem pública da cantora. A questão é que o enredo do filme vai se prender em quem aquela mocinha se transformou após um salto de quase duas décadas: é só aí que Natalie Portman entra em cena fazendo uma performer desagradável no seu estrelismo, superficial, inteiramente autocentrada e perdida nas suas relações íntimas, seja com a irmã, com o empresário (Jude Law, presente desde o início) e com a filha (Raffey Cassidy - que fazia a personagem Celeste jovem na primeira hora do filme).

Uma conversa entre mãe e filha se alonga muito, talvez com a pretensão de mostrar a caricatura em que a personagem se tornou, levando Natalie Portman a uma composição estereotipada em excesso. Aliás, fica claro que pretensão não faltou ao também ator Brady Cobert nesta segunda incursão como roteirista e diretor em longa metragem. Ele busca enquadramentos elegantes, planos-sequências, uma narrativa cinematográfica “menos americana” no sentido dos filmes mais “comerciais”, mas infelizmente suas intenções se frustram na segunda hora de projeção. Assim como a conversa entre mãe e filha foi excessiva, um show com a atual ‘Celeste’ também se alonga, embora, neste momento Portman se saia melhor, mostrando que uma embalagem cheia de brilho pode fazer de qualquer talento musical mais ou menos mediano uma celebridade pop capaz de arregimentar milhares e milhares de fãs.

Dizer que este filme seria "um retrato do século XXI" como teria dito seu realizador pode acentuar ainda mais a frustração que a segunda parte deixa depois da ótima primeira metade.

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