Los Silencios é menos bem sucedido na construção ficcional do roteiro do que em sua ótima parte semi-documental que mostra a vida duríssima de uma família colombiana fugida das FARCS que vai para uma ilha no rio Amazonas - uma terra de ninguém entre Brasil, Colômbia e Peru. A ilha tem um “presidente” que não quer mais oferecer trabalho para gente como a mulher que chega naquele local com um filho e uma filha - sendo que esta que se mantém sempre em silêncio.
Um grupo de empresários quer “comprar” as casas por preço irrisório, visando construir um cassino na ilha, já que aquela terra não seria pertencente a nenhum dos países fronteiriços. Por sua vez, a recém-chegada recebe uma oferta de teor assemelhado, originada de um advogado. Para receber uma indenização pela provável morte de seu marido, um ex-líder comunitário, teria que ter um dinheiro que ela não possui no momento para os custos de busca e identificação de cadáver; o advogado lhe propõe receber de imediato uma quantia (vinte vezes menor do que ela provavelmente receberia se se mantivesse à frente da demanda), abrindo mão do valor final a receber - que ficaria para o escritório de advocacia.
No rádio ou na TV surgem as notícias do acordo de paz entre o governo da Colômbia e as FARCs. Enquanto a situação social dos moradores da região se desenrola num viés realista, o personagem do marido sumido reaparece: como lembrança para a mulher ou – talvez – como um fantasma para a filha silenciosa.
Mas o roteiro parece estar sendo desenvolvido para duas cenas próximas ao final nas quais se revelam algumas pretensas surpresas do enredo, meio que “segredos de Polichinelos” – que, entretanto, sofreram alguns despistes para o espectador, despistes pouco leais para com a plateia.
ATENÇÃO: SPOILERS
Uma companheira da menina silenciosa, já próximo ao final, lhe fala de uma reunião de fantasmas que vão discutir a situação daquela comunidade. Nesta cena, o roteiro deixa explícita sua mensagem social com depoimentos verbais em um clima absolutamente natural entre vivos e mortos sobre o que lhes aconteceu e o que esperam de melhor. Mais do que em imagens, as palavras ditas se transformam no recurso principal para o que o filme já vinha expondo de melhor maneira do ponto de vista visual, propriamente cinematográfico.
A menina silenciosa vai se revelar como tendo morrido juntamente com seu pai, e suas roupas, que aos poucos já vinham adquirindo cores fluorescentes, vão ter este aspecto acentuado, tanto para ela como para o pai. A mãe recebe os restos mortais dos dois e uma bela cerimônia fúnebre dá o toque final com amplo uso de tintas fluorescentes servindo como pintura de aspecto indígena nos rostos de todos, vivos e mortos. A despeito da emoção que estas cenas podem despertar, o filme, como documento, funciona melhor do que como ficção.